Raja Janaka disse a Shri Rama: "eis a minha filha, SITA, que andará sempre contigo sobre o caminho do Dharma. Toma a sua mão entre as tuas... Abençoada e devotada, ela andará sempre contigo, como se fosse a tua própria sombra."
Raja Janaka - Viveu a cerca de 6.000 anos antes de Cristo. Raja Janaka foi um rei de Vedeha da raça solar. Ele era chamado de Sira-Dhwaja (aquele que traz um arado como emblema), porque a sua filha lhe foi dada pela Mãe Terra, Shri Bhoomi Devi, quando ele passava o arado no seu campo e se preparava para fazer um Jagnya para que as Divindades lhe dessem uma descendência.
Esta filha foi Sita, a futura esposa de Rama, cujo nome significa ‘filha da Terra’.
Nessa época, as Divindades eram veneradas como forças da natureza. Raja Janaka representa, na Índia, o arquétipo do Rei Perfeito, e simultaneamente um Mestre Primordial: a religião não é exclusividade dos brâmanes, porque o Rei por si mesmo tem a sua "religião interior".
Seu ensinamento se caracteriza por uma recusa em aceitar a hierarquia 'bramânica' que pretendia que apenas os brâmanes podiam realizar os sacrifícios e ritos religiosos. Sua época foi um período de intensa e aguda vida intelectual, filosófica e religiosa.
Janaka teve por Mestre e conselheiro Yajnavalkya que foi um grande filósofo de seu tempo.Ele promovia discussões religiosas, nas quais se confrontavam as várias idéias filosóficas. No Brihad-Aranyaka Upanishad podem ser encontrados seus pensamentos filosóficos.
Existe uma bela história narrada por Shri Mataji sobre Raja Janaka. Como vocês sabem o Rei (Raja) Janaka era chamado de Videha (que significa ‘extrair proveito de nada’):
“O grande sábio Narada perguntou ao Rei: ‘venerável Senhor, como é que o Senhor pode ser chamado de Videha se vive nesse mundo?’
Raja Janaka respondeu: ‘é muito simples. Eu falarei sobre isso nessa noite. Agora, por favor, faça esse pequeno trabalho para mim. Tome essa vasilha com leite e siga-me. Por favor, impeça que qualquer gota de leite caia na Mãe Terra. Somente depois disso, dir-lhe-ei por que razão sou chamado de Videha’.
Narada pegou a vasilha e seguiu Janaka por todos os lugares. Ele tinha de ser muito cuidadoso, porque a vasilha tinha um formato tal que, ao mínimo movimento, o leite poderia espirrar. Ele ficou muito cansado. Quando eles se recolheram à noite, Narada pediu a Janaka: ‘por favor, conte-me agora a explicação. Já estou totalmente saturado de carregar essa vasilha e, ao mesmo tempo, segui-lo por todos os lugares’.
Raja Janaka disse: ‘antes de tudo, diga-me o que é que você percebeu’.
Narada replicou: ‘nada, exceto essa vasilha de leite da qual nenhuma gota podia cair’.
Raja Janaka então disse: ‘você não viu que havia um grande séquito em minha homenagem? Não viu também que havia um programa de dança no palácio? Você não viu nada disso?’
Narada replicou: ‘não, Senhor. Não percebi nada disso’.
Então Raja Janaka afirmou: ‘meu filho, eu também não vi nada, como você. Durante o tempo todo, apenas observei a minha atenção. Onde estava a minha atenção? Esteja certo de que ela também não dispersaria como o leite’.
Raja Janaka não se submeteu à hierarquia brâmane, reafirmando o seu direito de executar os sacrifícios sem a intervenção dos sacerdotes. Por causa de seu modo de vida puro e reto, ele é considerado, ao mesmo tempo, um brâmane e um Rajarishi (que significa um sábio santo de sangue real ou um guerreiro da casta dos Kshatryas, o qual foi elevado à categoria de santo ou de semideus). Janaka e seu conselheiro e sacerdote Yajnawalkya foram considerados precursores do advento de Buda. Seus ensinamentos filosóficos e religiosos encontram-se no Brihad-Araniaka Upanishad.
No Brihad-Araniaka Upanishad, encontra-se uma inspirada conversa entre Raja Janaka e o sábio Yajnawalkya:
“Yajnawalkya, o grande sábio, foi entrevistar-se com o magnífico imperador de Videha, Raja Janaka. O sábio imaginava que ele poderia não fazer nenhuma revelação importante, dado que pretendia apenas obter um donativo. O sábio e o imperador já haviam tido um encontro anterior, quando então, o sábio concedeu a Janaka o poder (ou a graça) de ter todas as suas perguntas respondidas por ele (sábio) nos próximos encontros que tivessem. Imediatamente após a chegada do sábio à corte de Janaka, este faz a seguinte pergunta: “Yajnawalkya, com que luz o homem é servido?”
“oh, imperador, é com a luz do Sol (tentando revelar o mínimo possível). Isso porque é com a luz do Sol que o homem se senta, sai de casa, trabalha e volta ao seu lar”, respondeu o sábio.
“Isso é verdade. No entanto, quando o Sol se põe, com que luz o homem é servido?” perguntou Janaka.
“A Lua então torna-se a sua luz. Isso porque é com a luz da Lua que o homem se senta, sai de casa, trabalha e volta ao seu lar”, respondeu o sábio.
“Isso realmente é assim,” disse Janaka, “mas, quando o Sol e a Lua não estão presentes qual é a luz da qual se serve o homem?”
“O fogo torna-se a luz do homem”, replicou Yajnawalkya. Isso porque é com a luz do fogo que o homem se senta, sai de casa, trabalha e volta ao seu lar.”
O imperador concordou mais uma vez: “oh, Yajnawalkya, mas quando o Sol e a Lua não estão presentes e o fogo se extinguiu, com que luz o homem é servido?”
O sábio continuou se contendo, mas respondeu: “o som então serve como luz. Isso porque é com o som da voz como sua luz que o homem se senta, sai de casa, trabalha e volta ao seu lar. Oh, imperador, quando está muito escuro que não se pode ver a própria mão diante de sua face, se um som é emitido, então pode se seguir o som.”
“Isso também é verdade”, disse Janaka, pacientemente. “Todavia, oh, Yajnawalkya, quando o Sol e Lua não estão presentes, o fogo se extinguiu e não se ouve nenhum som, qual é então a luz com a qual o homem é servido. Janaka encostou assim o sábio contra a parede.
“O ATMA, ou o SI torna-se então a luz do homem”, respondeu Yajnawalkya. Isso porque é com a luz do Espírito (SI) que o homem se senta, sai de casa, trabalha e volta ao seu lar.”
Somente após essa pergunta ter sido feita é que o sábio começou a ministrar os ensinamentos a Janaka.
O sábio Yajnawalkya transmitiu a Janaka os conceitos usuais acerca do SI (ATMA ou Espírito) constantes dos Upanishads. Por exemplo:
“O espaço está contido num vaso de barro. Assim como o espaço não é transportado com o vaso quando este é removido de um lugar para outro, assim também JIVA (isto é, o SI quando contido num ‘vaso’ de um corpo grosseiro ou sutil), com sua qualidade de espaço infinito, permanece imóvel e não é afetado”.
“O SI, assim como o espaço, não sofre quando um corpo se despedaça”.
“As várias formas, como os vasos de barro, quebram-se em pedaços repetidas vezes, mas o SI não toma conhecimento de que essas formas são quebradas, ainda assim o SI dá-se conta eternamente”.
“O SI não toma conhecimento dos corpos. Eles podem estar quebrados ou inteiros. O SI É O CONHECEDOR DE SUA PRÓPRIA PLENITUDE NÃO DIFERENCIADA, QUE ESTÁ ALÉM DA FORMA, DO MESMO MODO QUE O ELEMENTO ÉTER ESTÁ ALÉM DA FORMA. Como o elemento éter é o primeiro dos cinco elementos ele contém potencialmente todas as qualidades dos outros quatro (terra, água, fogo e ar). DA MESMA MANEIRA, O SI (SELF ou ATMA ou JIVA ou o ESPÍRITO)”.
“Assim como os rios fluem a fim de repousar no oceano deixando para trás seus nomes e formas, da mesma maneira o CONHECEDOR LIBERTA-SE DO NOME E DA FORMA E TORNA-SE O HOMEM DIVINO (PURUSHA), QUE ESTÁ ALÉM DO ALÉM (PARATPARAM: MAIS ELEVADO DO QUE O MAIS ELEVADO E QUE TRANSCENDE O TRANSCENDENTE)”.
Ao explicar o significado de Chitta-nirodha, Shri Mataji disse que esse é o tipo de atenção que as pessoas têm de desenvolver que consiste na observação de sua própria atenção, ou seja, Chitta-nirodha. Chitta significa atenção e Nirodha significa ‘poupar a atenção’ ou não permitir que ela seja influenciada por nada. A atenção de vocês não deve ser poupada como se poupa o dinheiro ou outras coisas mundanas, mas é a própria atenção que deve ser poupada. Todas as coisas que vocês observarem resultarão na observação de vocês mesmos, em sua atenção. Isso ocorre quando vocês observam: o seu dinheiro, a estrada quando dirigem, o crescimento de seus filhos, a beleza de sua esposa, o carinho de seu marido, etc.
Fonte : Apostila Void da Sahaja Yoga