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2 de setembro de 2011

O Bhagavad Gita – Resumo



1. Comentários de Shri Mataji
Shri Mataji teceu comentários sobre os aspectos essenciais do Bhagavad Gita em Sua palestra feita no Puja de Shri Krishna, de 16 de agosto de 1998:

“Shri Krishna, através de seu Gita,  tentou nos ensinar como vencer a guerra contra o mal. Todo o Bhagavad Gita trata do ‘estado de testemunha’, que ali é muito bem descrito. Se lerem o Gita agora, encarando-o sob esse prisma, ficarão admirados de ver como o ‘estado de testemunha’ está descrito em todo o livro. Shri Krishna é como uma testemunha que descreve tudo aquilo que vê. Ele lhes dirá também como o ‘estado de testemunha’ auxiliou-O a compreender os seres humanos...

    ... Shri Krishna ensinou, primeiramente, como uma pessoa poderia tornar-se Sthita Pragya, ou seja, aquela que permanece no ‘estado de testemunha’. Se lerem todos esses versos que narram o Sthita Pragya, verão que se trata de descrever como vive e é feliz uma pessoa que se mantém no ‘estado de testemunha’...

...Em seguida, Ele desce aos detalhes dos conceitos de Karma, Gnyana e Bhakti.
    Em primeiro lugar, Ele falou acerca do Karma. Muitos se prendem ao ponto de achar que, seja qual for o Karma que fizerem, obterão Punyas (recompensas) a partir dele. Shri Krishna não disse isso. Se vocês O conhecessem, saberiam que Ele jamais quis dizer isso. O que Ele quis dizer foi: “Seja qual o for o Karma que vocês construírem – e podem fazer isso – devem deixar os frutos de suas ações nas mãos do Poder Divino”. Os frutos são provenientes do Poder Divino. Talvez, algumas pessoas achem que obtiveram dinheiro por causa de um bom Karma, e, por isso, podem começar a praticar más ações com aquele dinheiro. Ele não disse isso. Ele disse: “entreguem os frutos de suas ações ao Poder Divino”. Isso porque, o Poder Divino sabe o que é melhor para vocês. Mesmo que achem que fizeram algo de bom porque ajudaram os pobres, ou porque fizeram algo de realmente bom para as mulheres, vocês devem entregar tudo isso aos Pés do Poder Divino. Isso significa que não devem desenvolver o seu ego pelo fato de terem feito isso ou aquilo. Muito bem, Ele escreveu isso, mas para compreendê-Lo é preciso que alcancem o ‘estado de testemunha’, até mesmo para entender o que é que Ele falou sobre o Karma.

    Em seguida, Shri Krishna dissertou sobre Gnyana (conhecimento), que significa ‘aquilo que vocês sabem’. Todavia, isso não significa que devem ler livros sem parar. Gnyana significa saber quem vocês são. Quer dizer que devem ser Sahaja Yogis a fim de conhecer inúmeras coisas através das vibrações. Gnyana não significa ler livros. Se lerem muitos livros, vocês se tornarão mais ignorantes. Assim, Gnyana significa que devem conhecer o seu Ser interior ou Si (Self). Se não conhecerem o seu Ser interior, então não saberão coisa alguma. Assim sendo, é preciso que obtenham a sua Autorrealização. É preciso que conheçam o seu Ser interior ou Si (Self). Essa foi a segunda coisa sobre a qual Shri Krishna falou.

    Finalmente, Shri Krishna falou sobre Bhakti, que significa devoção. Essa também foi outra artimanha que Shri Krishna usou, quando dissertou acerca de Bhakti. Podem encontrar pessoas na rua cantando: “Hare Krishna, Hare Rama”. Ele chegou à conclusão apenas com uma palavra: Ananya. Ele disse que os seres humanos devem praticar a Ananya Bhakti. Ananya significa uma situação na qual ‘não existe o outro’, ou seja, quando alguém se submerge no Divino e fica inteiramente mergulhada no Divino. Shri Krishna disse que não aceitaria a devoção das pessoas, caso elas não estivessem completamente unificadas ao Poder Divino, pois, somente nesse ‘estado de união’ com o Poder Divino, deveriam exercitar a sua devoção. Ele disse que aceitaria coisas singelas como algumas folhas, algumas frutas ou um punhado de flores. Não obstante isso, para Ele a verdadeira devoção somente é possível quando os seres humanos se tornam unos com o Poder Divino, pois, em caso contrário, estarão apenas participando de uma representação teatral. Assim, essa terceira parte, que é Bhakti, vem após a obtenção da Realização do Si...

    ...Todavia, no ‘estado de testemunha’, compreenderão que obterão vibrações daquela pessoa. Perceberão quando uma pessoa é espiritual e, desse modo, vincular-se-ão a ela. Vocês não buscarão encontrar coisas superficiais ou artificiais, mas procurarão ligar-se às personalidades genuínas”.

2. Comentários de Yogi Mahajan sobre o Bhagavad Gita
(in Geeta Enlightened, Motilal B.Publishers PVT. LTD., Delhi, 1991)

Introdução:
   
“O Bhagavad Gita, uma parte do Mahabharata que narra a história da Índia antiga, é como o Velho Testamento da Bíblia que consigna os primeiros eventos da história de Israel. Os acontecimentos que formam o cenário do Gita ocorreram no norte da Índia, num passado muito remoto.

    Durante um período remoto na história do norte da Índia, houve uma batalha significativa e absolutamente decisiva, que durou 18 dias, entre os Pandavas e os Kauravas. O Gita é o registro de um diálogo entre o Senhor Krishna e o Príncipe Arjuna antes da primeira confrontação. Arjuna, ainda que não fosse o mais velho, era o mais notável dos irmãos Pandavas.

    Através de um legado de seu pai, os Pandavas tinham direito à terra e às honras do reino, mas foram privados disso através das artimanhas perversas de seus primos, os Kauravas.

    Os cinco irmãos Pandavas que, em sua integridade, coragem e determinação, pareciam heróis da antiga Grécia, aceitaram a situação com uma resignação corajosa. No entanto, finalmente compreenderam que não tinham outra opção a não ser lutar contra os Kauravas, os quais se valeram de um ato de extrema malícia a fim de banir os Pandavas de seu reino.

    Em sua procura de aliados, ambos os adversários pediram a ajuda do Senhor Krishna que se recusou a pegar em armas, mas acedeu em ser o condutor da carruagem de Arjuna. A cena de abertura do Gita nos introduz no campo de batalha, onde o Senhor Krishna, o condutor da carruagem, leva o Príncipe Arjuna até as fileiras inimigas. Ali começa esse famoso diálogo entre a Mente Coletiva (Samashti do Virata) e uma Mente Individual (Vyashti), vale dizer, entre o espírito e o ego humano".

Prefácio:

    Todas as vezes que tentava olhar para trás, defrontava-me, continuamente, com um espectro de quatro perguntas: QUEM SOU EU? POR QUE MOTIVO ESTOU AQUI? DEUS EXISTE? ONDE ESTÁ DEUS?

    Não me restava nenhuma outra opção a não ser a de enfrentar o espectro. Até certo ponto, minha mente se acalmava, quando refletia sobre a imagem que eu tinha de Deus, na infância, como a figura do Senhor Krishna sentado, majestosamente, numa carruagem dourada puxada por seis esplêndidos cavalos brancos e trazendo em Suas mãos as rédeas que mantinham o controle de nós, pobres mortais. Todavia, o pensamento racional dos tempos modernos deixou de propiciar essa reflexão espiritual que daria uma resposta às minhas indagações.

    Tudo isso tinha de ter alguma lógica. Na medida em que se ouve o poderoso Senhor Krishna falar de Karma, Dharma e Bhakti, num só tom, tudo fica mais confuso ainda. Talvez isso seja verdadeiro em relação a todas as escrituras, dado que é preciso que se perceba aquilo que existe nas entrelinhas, pois do contrário cai-se numa confusão. O Gita descreve o estado iluminado de um iogue e seus atributos. A grande questão é: ‘como alcançar esse estado?’

    A resposta tinha de estar em algum lugar. Alguém deveria saber qual era a resposta. Eu invejava os camponeses felizes que nada questionavam e, portanto, não tinham de sair à procura de respostas através da utilização de um arcabouço racional, essencialmente limitado, da mente humana.

    Talvez a resposta viesse para mim se eu me tornasse um asceta. Essa busca terminou, subitamente, cinco anos depois, quando tive um encontro casual com Sua Santidade Shri Mataji Nirmala Devi. Através da orientação simples e terna dada por Ela, as histórias de minha infância que versavam sobre o Senhor Krishna (bem como sobre o Senhor Jesus Cristo e o Senhor Buda) adquiriram vida e o espectro que me atormentava desapareceu. Na medida em que vivenciei a experiência do Espírito, a fonte do verdadeiro conhecimento, o Gita pareceu deflagrar uma nova consciência, bem como um novo estado de ser e começou a promover a conciliação de suas palavras com a Realidade. Esse livro (Geeta Iluminado) é o resultado dessa vivência.

    No Gita, o Senhor Krishna concita os buscadores de todas as eras a descobrir a realidade. Como se deve diferenciar o falso do verdadeiro. Havia chegado o momento de desvendar os mistérios com os quais os buscadores sempre haviam se defrontado. A semente tinha de ser lançada, naquele tempo, para que os frutos fossem colhidos, agora, na Nova Era.

    O significado da vida é simples, no entanto, a mente humana tornou-se muito complicada para compreendê-lo. É surpreendente ver como na ausência da Auto-realização (Atma Sakshatkar), a capacidade de compreensão de alguém pode se tornar completamente equivocada. Essa é a razão pela qual o Senhor Cristo, o Senhor Buda e o Senhor Krishna insistiram em que deveríamos ter um segundo nascimento. De fato, o Gita foi escrito como uma descrição desse estado que os seres humanos precisam alcançar e também é uma coletânea de ensinamentos para aqueles que já foram despertados. Esse livro (Geeta Enlightenhed) não deve ser visto como uma tradução literal do texto, mas como a essência da mensagem do Senhor Krishna. Trata-se de uma tentativa de comunicar, à luz do Espírito, a simplicidade do Gita com a esperança de auxiliar o buscador em sua viagem espiritual”.
Yogi Mahajan 
  


Introdução
O Bhagavad Gita consubstancia a Revelação feita por Shri Krishna a Arjuna, no campo de batalha, a fim de solucionar a sua confusão mental e foi escrito pelo sábio Vyasa, que lhe deu a forma de uma narrativa feita por Sanjaya a Dhritarashtra (rei cego dos Kauravas). Entre os textos sagrados existentes no mundo, o Bhagavad Gita é um dos mais populares. A sua popularidade é atestada pelo fato de que, depois da Bíblia, ele é talvez o texto sagrado mais amplamente traduzido. Curiosamente, ele se coaduna com os valores eternos e universais da humanidade, independentemente da origem religiosa ou étnica dos indivíduos. Na Índia, depois que o grande Shankara escreveu seus comentários sobre ele, inúmeros eruditos versados na filosofia Vedanta fizeram, também, suas interpretações a esse texto magnífico.

Não foram apenas os pensadores indianos antigos que se encantaram com esse texto sublime, mas também muitos líderes dos tempos modernos debruçaram-se sobre ele e comentaram suas idéias nobres. Por exemplo, Gandhi (Anashakti Yoga) e Tilak (Gita Rahasya) mostram a persistente preferência e a imensa admiração pelo Bhagavad Gita existentes há séculos. Existem inúmeras versões do Bhagavad Gita na maior parte das línguas faladas no mundo.

A tremenda atração exercida pelo Bhagavad Gita provém do fato de que ele versa sobre os problemas práticos da vida e contém lições que podem ser adotadas a fim de resolver os conflitos que afligem o ser humano em todos os tempos. Talvez isso explique por que motivo existem tantos indivíduos interessados nesse texto sagrado, inclusive com inúmeros sítios (sites) e ligações (links)  na moderníssima Internet.

Algumas opiniões relevantes sobre o Bhagavad Gita:

ADI SHANKARACHARYA
“Todos os indivíduos deveriam ler, todos os dias, pelo menos um trecho do Bhagavad Gita”. 

MAHATMA GANDHI
“O Bhagavad Gita exorta os seres humanos a dedicar seus corpos, mentes e almas ao dever puro e não a se tornarem mentalmente voltados para o prazer ao ficarem à mercê dos desejos aleatórios e impulsos descontrolados”.

EINSTEIN
“Quando leio o Bhagavad Gita e reflito de que forma Deus criou esse universo, tudo o mais parece muito supérfluo”.

CARL JUNG
“A idéia de que o ser humano é como uma árvore invertida parece ter sido corrente em eras remotas. Essa idéia vincula-se às concepções védicas conforme nos mostra Platão em seu livro Timeu, no qual afirma: ‘observem que não somos uma planta terrena, mas sim uma planta celestial’. Essa correlação pode ser verificada naquilo que Krishna explicita no capítulo 15 do Bhagavad Gita”. 

ALBERT SCHWEIZER
“O Bhagavad Gita tem uma influência profunda no espírito da humanidade pela sua devoção a Deus, a qual se manifesta através das ações”.

RAMANUJA (FILÓSOFO INDIANO DO SÉCULO 12)
“O Bhagavad Gita foi proferido pelo Senhor Krishna no afã de revelar a ciência da devoção a Deus que é a essência de todo o conhecimento espiritual. O objetivo primordial da encarnação, na Terra, do Supremo Senhor Krishna foi o de libertar o mundo de quaisquer influências negativas, indesejáveis e malignas que se opõem ao desenvolvimento espiritual. Ao mesmo tempo, o Senhor Krishna teve a intenção de permanecer, perpetuamente, ao alcance de toda a humanidade”.




Versão Resumida
    O Bhagavad Gita compõe-se de 18 capítulos, conforme se pode ver abaixo:
1. O Dilema de Arjuna;
2. O Conhecimento Transcendental;
3. O Caminho da Ação (Karma Yoga);
4. O Caminho da Renúncia com Conhecimento;
5. O Caminho da Renúncia;
6. O Caminho da Meditação;
7. O Caminho do Conhecimento com Realização;
8. O Caminho do Absoluto Imperecível (Brahman);
9. O Conhecimento Secreto e o Grande Mistério;
10. As Manifestações das Glórias Divinas;
11. A Visão da Forma Cósmica;
12. O Caminho da Devoção;
13. O Campo do Conhecimento (Kshetra) e Seu Conhecedor (Kshetragya)
14. A Diferenciação das Três Gunas da Natureza;
15. O Caminho para o Espírito Supremo;
16.  Os Atributos Divinos e Demoníacos;
17. Os Três Tipos de Fé (Shraddhaa);
18. A Liberação através da Renúncia.
Epílogo: A Mensagem de Adeus do Senhor Krishna


1.O Dilema de Arjuna
Esse primeiro capítulo, bem como todos os demais, começa com uma pergunta de Dhritarashtra (o rei cego do Kauravas) queria ouvir notícias de seus filhos e dos Pandavas que se reuniram em Kurukshetra a fim de guerrear.
Sanjaya guiou Dhritarashtra pelo campo de batalha, e descreveu-lhe o que estava ocorrendo. No começo desse capítulo, Duryodhana (filho de Dhritarashtra, que governa em seu lugar) fez um resumo para Drona (mestre de Duryodhana) acerca dos dois exércitos. Segue-se uma descrição dos preparativos para a batalha. Nos versos que se seguem, Arjuna queria observar os guerreiros se perfilando para a batalha e pede a Krishna que coloque a carruagem entre os exércitos alinhados. Krishna atende ao pedido de Arjuna. Este então pôde ver que todos os seus parentes e seus amigos participavam dos dois exércitos, o que provocou nele uma tristeza profunda.

    Vê-se, agora, um Arjuna diferente. As circunstâncias fizeram com que ele ficasse deprimido e confuso. Quando viu seus parentes no campo de batalha, ele se enche de uma profunda compaixão e é tomado por um grande apego a eles. Ficou nervoso e disse que não queria mais guerrear, mesmo que com isso obtivesse o domínio dos três mundos. Sentia que não poderia haver felicidade por ter se deparado com a perspectiva de que seus parentes seriam aniquilados. Assim sendo, estava horrorizado com as conseqüências funestas da guerra. Seu horror era tamanho que afirmou que para ele seria melhor que os filhos de Dhritarashtra o matassem indefeso e desarmado na batalha. Por causa de sua confusão, Arjuna perdeu a equanimidade de sua mente. Por fim, ele colocou seu arco e suas flechas no chão e sentou-se atrás da carruagem.

2.O Conhecimento Transcendental
    O capítulo começa com o Senhor Krishna chamando Arjuna à razão: de onde lhe vem esse desânimo nessa perigosa conjuntura? A covardia no guerreiro fecha-lhe as portas do céu. As lamentações de Arjuna continuam até o décimo verso. As lamentações e a confusão mental de Arjuna persistem, apesar das fortes palavras proferidas por Krishna com o intuito de reanimá-lo. Finalmente, ele se entrega aos pés do Senhor e torna-se Seu discípulo (sétimo verso). Krishna sorri e diz ao desolado Arjuna: você está se lastimando por algo que não merece a sua lástima. O sábio não se lastima nem pelos vivos e nem pelos mortos. Mesmo quando se pensa que o nascimento e a morte são coisas reais, ainda assim não há o que lamentar, pois certa é a morte para quem nasce, bem como o nascimento para quem morre.

    Nos versos 17 a 25, o Senhor explica a Natureza do Espírito e do Corpo. O Senhor diz que o nascimento e a morte dizem respeito apenas ao corpo e nada têm a ver com o Aatman ou Espírito. Comparado com o Espírito, o corpo é apenas uma vestimenta que alguém usa e depois joga fora quando se torna velha. Todas as fases tais como a infância, juventude, maturidade e velhice são apenas estágios passageiros do corpo. O corpo é perecível, enquanto que o Espírito não é suscetível de ser destruído e um homem sábio compreende isso. O Ser real, isto é, o Espírito não nasce e nem morre. Ele é inato, imortal, perpétuo e eterno. Sempre existiu e sempre existirá.

Nos versos 31 a 39,  Shri Krishna fala acerca da filosofia Sankhya – que trata da vida e das coisas – bem como dos deveres de um Guerreiro Virtuoso (Kshatriya). O Senhor diz que um Kshatriya aceita uma guerra em prol da Retidão e da Virtude, porque ela abre as portas que levam ao céu. Ele diz que não pode haver nenhuma derrota para um verdadeiro Kshatriya, dado que, se ganhar a guerra e viver, ele obterá todas as alegrias da Terra. Se perder e morrer, obterá as benesses do céu. Por outro lado, se ele se recusar a lutar, perderá a sua reputação e será chamado de covarde. Com a mente tranqüila, devem ser aceitos como coisas equivalentes: o prazer e a dor, o ganho e a perda, a vitória e a derrota. Quem cumpre o seu dever evita o pecado.

    Os versos 40 a 53 falam sobre a Karma Yoga (Ioga da Ação). Nesses versos, o Senhor diz como uma pessoa deve agir nesse mundo. Ele diz que as ações devem ser executadas sem levar em consideração as vantagens e os frutos que poderão ser obtidos delas. Se o interesse egoístico for  a motivação básica de uma pessoa nesse mundo, então ela se tornará apegada aos objetos materiais. Por outro lado, se todas as ações forem efetuadas sem desejos egoísticos e dedicadas ao Senhor, isso conduzirá a pessoa à espiritualidade. O que cabe à pessoa é apenas agir e não se apropriar dos frutos da ação. Os benefícios oriundos das ações não devem ser um incentivo para que uma pessoa as execute e nem tampouco para que ela se apegue à inatividade.

    Nos versos 54 a 68, um Stitapragya ou um ser humano de sabedoria firme é descrito como aquele que abriu mão de todos os desejos de seu ego, que permanece imperturbável diante da tristeza e da felicidade, que é livre das paixões, da raiva e da ganância. Ele retira todos seus sentidos dos objetos, como uma tartaruga se refugia em seu casco, eis que: “ao permanecer sensorialmente ligada aos objetos materiais, uma pessoa desenvolve o seu apego, que a leva ao desejo, à raiva, à paixão desenfreada, à confusão da memória, à perda da razão e, finalmente, à ruína. O controle dos sentidos conduz a pessoa ao aprimoramento espiritual, enquanto que a sua falta causa a ruína. A verdadeira felicidade vem, portanto, do controle dos sentidos e não de um descontrole total dos mesmos.




3.O Caminho da Ação (Karma Yoga)
A confusão de Arjuna aumenta após ouvir o discurso acerca do “Caminho do Conhecimento Transcendental”. Arjuna quer saber como seria aceitável para ele lutar na guerra, dado que o Senhor lhe havia descrito a renúncia aos frutos da ação como um meio de alcançar a Realização de Deus. O resto do capítulo trata da resposta do Senhor Krishna à essa questão.

O Senhor Krishna diz que uma pessoa não se torna Stitapragya (ser humano de sabedoria firme) por se abster simplesmente de agir. Não é possível para ninguém se manter inativo, porque o homem é parte da natureza e esta está sempre em atividade. Mesmo uma pessoa que parece ter renunciado a todos os objetos não pode ser chamada de desapegada, enquanto ficar pensando sobre esses objetos. Portanto, executar as ações de uma maneira equilibrada é melhor do que não agir de modo algum.

Nos versos 9 a 18, o Senhor define Yagya ou sacrifício e diz que o sacrifício mais elevado é servir a Deus que está presente em todas as Suas criações. O Senhor diz que cada pessoa deve cumprir o dever que lhe é prescrito na sociedade.

Nos versos 19 a 26, o Senhor afirma que a ação é necessária e que a ação desinteressada leva à Realização de Deus. Portanto, Shri Krishna diz a Arjuna que ele deve cumprir o seu dever sem apego. O Senhor cita os exemplos de Janaka e de outros sábios e mesmo Seu próprio exemplo, a fim de mostrar que é vantajoso executar as ações, enquanto que não executá-las é prejudicial.

Nos versos 27 a 35, o Senhor Krishna diz que um ser humano sábio compreende que todas as ações podem ser atribuídas à Mãe Natureza, dado que o ser humano sábio é aquele que nada faz por si mesmo. O ser humano ignorante acha que realiza todas as ações e é o executor de tudo. O caminho através do qual se alcança o desapego não é o da abstenção das ações, mas sim desempenhar as ações sem esperar usufruir dos resultados delas. Shri Krishna diz que a Gyaana Yoga (a União com o Divino através do Conhecimento Transcendental) e a Karma Yoga (a União com o Divino através do Desapego e da Renúncia aos Resultados das Ações) são complementares e que não é possível realizar uma sem a outra. Quando uma pessoa negligencia o cumprimento de seu Dharma (dever), ela pratica um pecado.

Nos versos 36 a 43, Arjuna quer saber por que razão o ser humano comete um pecado, mesmo que ele não queira fazer isso. Shri Krishna responde-lhe dizendo que é o desejo e a raiva que aparecem como pecados e levam o ser humano a praticar ações indesejáveis. Os sentidos, a mente e o intelecto são os domínios do desejo e da raiva. No afã de evitar o pecado, o ser humano deve aprender a controlar os sentidos e não simplesmente suprimir seus desejos. O Espírito é considerado como sendo muito superior aos sentidos, à mente e ao intelecto. O Senhor Krishna conclui este capítulo estimulando Arjuna a subjugar a mente e o intelecto e a matar o inimigo que se apresenta sob a forma do desejo.

4.O Caminho da Renúncia com o Conhecimento
    No início deste capítulo, o Senhor diz a Arjuna que esse conhecimento foi transmitido por Ele, primeiramente, a Suryadeva (Vivaswan), que depois o passou a Manu, depois para Ikshvaaku, depois para os Reis e assim por diante. Assim, esse conhecimento é Parampara Praptham. No entanto, com o passar do tempo, o mundo perdeu esse conhecimento. O Senhor afirma a Arjuna que Ele está revelando novamente esse conhecimento para ele, porque ele (Arjuna), além de ser Seu devoto, é um amigo verdadeiro.

    O Senhor diz que Ele nasceu inúmeras vezes na Terra, através de Seus poderes Divinos, a fim de proteger a conduta correta (Dharma), sempre que esta era esquecida ou maculada.

    Shri Krishna afirma que sempre que a conduta correta entrar em declínio e prevalecer o Adharmaa (o contrário do Dharma, vale dizer, a falta de ética), Ele se manifestará novamente. O Senhor se aproxima de Seus discípulos, tal como nos aproximamos dele – como um amigo, um estudante ou um amante. Ele declara que as castas sociais (Kshatriya, Brahmana, Vysya e Shudra) foram criadas em conformidade com a sua Guna, ou natureza e com o Karmaa ou deveres. Torna-se liberado aquele que compreende que está desvinculado e desapegado do Karma (o conjunto das ações) que está efetuando. Aqueles que descobrem a ação na inatividade e a inatividade na ação são os seres humanos mais inteligentes. Eles se deleitam com todas as ações e enxergam o Senhor em todos seres.

    Shri Krishna fala também acerca do Gyaana Yagya que é o mais excelso de todos os Yagyas (sacrifícios) e que ele deve ser aprendido, adequadamente, de um mestre. O FOGO DO CONHECIMENTO TRANSFORMA TODOS OS PECADOS EM CINZAS. Quase no final do capítulo, o Senhor fala sobre aqueles que podem ser considerados devidamente instruídos e realizados. Aquele que controla seus sentidos, que se dedica às práticas espirituais e que tem uma fé plena alcança o conhecimento e, conseqüentemente, a paz imediata. Um indivíduo ignorante, sem fé alguma e que duvida de tudo não encontra lugar algum nesse mundo e nem no próximo. Assim, aquele que dedicou todas as suas ações (e seus frutos) ao Senhor e que sempre permaneceu sem dúvidas não será limitado por suas ações. O Senhor conclui dizendo a Arjuna que ele tem de remover suas dúvidas com o conhecimento, firmar-se na Karma Yoga e lutar em prol do Dharma.

5.O Caminho da Renúncia
O capítulo começa com uma pergunta feita pelo confuso Arjuna sobre qual é o melhor caminho: o da Karma Yoga (caminho da ação desapegada) ou o da Sankhya Yoga (o caminho do Conhecimento)?

Respondendo à pergunta no segundo verso, o Senhor diz que ambos os caminhos conduzem ao mesmo objetivo e, portanto, são similares. No entanto, Shri Krishna diz que a Karma Yoga é melhor, dado que ela pode ser praticada mais facilmente na vida diária. Ele então afirma que um Karma Yogi é aquele que não odeia ninguém e nem sente intensos desejos de ter coisa alguma. Um verdadeiro renunciante, cuja mente é pura, cujos sentidos estão controlados e que se identificou com o Senhor, não se sente constrangido ou limitado, ainda que esteja engajado no trabalho. Um Karma Yogi desse jaez alcança Brahman (o Absoluto) rapidamente.

Aquele que executa todas as suas tarefas como uma oferenda ao Senhor, sem ambição ou apego aos frutos de seu trabalho, não é tentado pelo pecado, tal como uma folha de lótus que não é tocada pela água, e alcança o Nirvana e não reencarna mais. Uma pessoa realizada olha com o mesmo respeito para: o pobre ou o rico, o educado ou o iletrado, o santo ou o pecador, o intocável, uma vaca, um elefante ou um cão.

Em seguida, o Senhor introduz o Caminho da Meditação e da Devoção e diz que ele pode auxiliar tanto um Karma Yogi quanto um Sankhya Yogi a obter a Realização de Deus. O Senhor diz que, para um indivíduo que se sente incapaz de trilhar a Karma Yoga ou a Sankhya Yoga, existe a Bhakti Yoga (o Caminho da Meditação e da Devoção) que é uma ferramenta que o levará a alcançar o objetivo mais elevado. O Senhor conclui o capítulo dizendo:
Deus é um amigo e um ajudante sempre pronto a nos auxiliar a superar as negatividades, desde que confiemos Nele. Deus não é meramente um distante soberano (e controlador) do mundo, mas sobretudo um amigo.

6. O Caminho da Meditação
    Esse capítulo define a ioga; ensina como controlar a mente e a meditar; indica os benefícios da meditação e responde à nossa indagação sobre o que acontece com um iogue mal sucedido.

    O Senhor Krishna afirma que as aparências externas de renúncia não são suficientes e que os iogues verdadeiros lutam para alcançar o desapego na ação. Um renunciante (Sannyasi) pode se tornar livre da ação em seu caminho para a perfeição, enquanto que um Karma Yogi (o iogue que atua sem egoísmo) alcança a perfeição mais através da ação desapegada do que através da renúncia à ação. O Senhor diz que ambos os caminhos incorporam o mesmo fundamento, em termos de desapego dos frutos ou resultados das ações e, portanto, são equivalentes.

    O Senhor diz a Arjuna que um ser humano pode elevar-se ou degradar-se através de sua própria mente. A mente pode transformar-se no melhor amigo do ser humano ou pode tornar-se seu pior inimigo. A mente torna-se um amigo daquele que tem controle sobre ela e se transforma num amigo para aquele que é controlado por ela.

    Os versos 10 a 22 falam acerca da prática da meditação. A meditação exige que a pessoa esteja firmemente sentada numa postura ereta e que faça o menor número possível de movimentos físicos. Todas essas coisas são imprescindíveis, porque somos dotados de tanta imaginação que se torna extremamente difícil restringir a nossa mente. O Senhor diz que uma mente dispersiva deve ser regularizada através da contemplação de Deus. Essa união da mente com Deus recebe o nome de YOGA.

    Um verdadeiro iogue considera todos os seres como se fosse ele mesmo e trata todas as pessoas como se pertencessem à sua família. A mente pode ser subjugada por uma prática espiritual sincera ou meditação e pelo desapego. Nem todos os iogues são bem sucedidos em controlar a mente. O iogue mal sucedido é agraciado com a compaixão do Senhor que lhe permite transferir as suas práticas espirituais de vidas passadas para as suas próximas encarnações. Deus nos garante que nenhum esforço espiritual é jamais desperdiçado.

    O capítulo conclui com as palavras de que os mais devotados de todos os iogues são aqueles que amam Deus, que vivem, respiram e pensam em Deus em todos os instantes – Manasaa, Vaacha e Karmana (mentalmente, em palavras e nas ações) e cujas mentes estão sempre concentradas em Deus.

7. O Caminho do Conhecimento com Realização
    Esse capítulo desdobra-se em trinta versos, a sabedoria – Gyaana (o conhecimento de Deus em Seu aspecto absoluto e sem forma), ao lado do conhecimento do aspecto qualificado de Deus ou Vigyaana (o conhecimento de Deus, quer com forma, quer sem forma). Após a obtenção desse conhecimento, nada mais resta a ser conhecido nesse mundo.

    Uma alma rara peleja para alcançar Deus e, dentre milhares delas, uma alma mais rara ainda encontra, de fato, Deus. Esse capítulo é baseado nos fundamentos de Prakriti (natureza) e Jiva. A natureza tem dois aspectos e diferencia-se num aspecto inferior e num aspecto superior. A natureza inferior consiste em 5 Bhutas – Terra, Água, Fogo, Ar e Éter – é inerte e é destinada ao deleite. A natureza superior que é a mente, o intelecto e Ahamkaara (ou ego), a qual sustenta o mundo é Jiva.

    No sexto verso, a essência das duas Prakritis, a causa da criação é descrita como Kshetra e como Kshetragya, a causa original. Kshetra é inerte e evolui como corpo, enquanto que Kshetragya, isto é, a Prakriti mais elevada – que compreende a mente, o intelecto e Ahamkara – penetra em todos os corpos na medida em que os experimenta e os sustenta, através de seu próprio trabalho. Assim sendo, Deus é a origem a partir da qual uma coisa passa, efetivamente, a existir. Deus é a causa suprema do universo inteiro juntamente com Prakriti.

    Nada existe superior a Deus e o mundo depende dele como as pérolas pendem de um fio. Ele é o sal do oceano, o brilho do Sol e da Lua, o OM dos Vedas, o som no céu e a coragem nos homens. Deus é a semente imortal de toda a vida e é livre de paixão e de desejo.

    Esse capítulo também descreve as três Gunas: Sattva, Rajas e Tamas. As manifestações das três Gunas iludem o mundo que falha em reconhecer o Senhor que está além dessas três Gunas.

    É muito difícil perceber essa Maaya Divina das Gunas. No entanto, os devotos percebem seu jogo. Os ignorantes e os perversos são vítimas de Maaya e não adoram o Senhor.

    Os devotos são classificados como: os que se lamentam, os que buscam a verdade, os que buscam o regozijo e os que são sábios. O mais querido desses todos é o sábio, cuja mente é equilibrada e devotada a Deus como a meta suprema.

    Os seres humanos buscam alcançar objetivos diferentes conforme a sua natureza. Esse capítulo explica que Deus não tem forma, ainda que o ignorante ache que Ele é dotado de uma forma, dado que aquele é coberto e iludido por Maaya e não pode entender que Deus não nasce e nem morre. Quem está mergulhado no mundo de ilusão e de Maaya é incapaz de alcançar Deus. O jogo da ambivalência da dor e do prazer induz todos os seres humanos à ilusão. No entanto, os seres humanos santos libertam-se dos extremos, transformam-se em adoradores dedicados e pelejam em prol da salvação em relação à velhice e à morte. Os seres humanos santos compreendem Brahman (o Absoluto), bem como a natureza do Karma. Eles preservam o seu conhecimento até o momento de sua morte, dado que estão firmemente convictos dele.

8. O Caminho do Absoluto Imperecível (Brahman)
    O significado desse termo Aksharabrahaman.h é verdadeiro em dois sentidos. Brahman é Akshara ou indestrutível, imperecível e também Akshara, a sílaba sagrada OM é Brahma, da qual se falará no transcorrer esse capítulo.

    Enquanto todos os outros capítulos do Gita nos ensinam a viver, o Capítulo 8 é o único capítulo que nos ensina COMO MORRER. O Senhor diz que aquele que Me conhece e que se lembra de Mim no momento em que estiver saindo de seu corpo, sem dúvida alguma, ele Me alcançará e Me achará depois de sua morte.

    Por isso, para que, em seus últimos momentos, uma pessoa possa se lembrar facilmente e rapidamente focalizar sua atenção em Deus e somente em Deus, é imprescindível que essa pessoa se lembre de Deus em todos os momentos de sua vida. O Senhor Krishna diz a Arjuna: “lute e execute suas ações terrenas lembrando-se sempre de Mim. Faça com que sua mente Me sinta, pense em Mim e seja permeada por Mim. Então, não haverá dúvida alguma de que, ao pensar em Mim em seu momento final, você poderá descobrir-Me e alcançar-Me”.

    Qual é a técnica adequada para se adquirir essa constante lembrança de Deus? Abhyaasa Yoga – pratique inúmeras vezes e traga sempre a mente de volta para o Senhor Deus. O Senhor diz: “pense em Mim com uma mente concentrada e que não se distrai. Dessa forma, certamente, você Me alcançará”.

    Suponhamos que você percebe que  sua morte é iminente, você pode ver que ela está se aproximando. O que é que você deve fazer? Encha a sua mente de amor e de devoção, não deixe que ela vagueie, concentre-se e mantenha a sua mente, a sua respiração e a sua visão entre as duas sobrancelhas e lembre-se, incessantemente, do Senhor Deus. Em seguida, você pode deixar que sua respiração se esvaeça ou que seu corpo se torne imperceptível, pois naquele momento você já O alcançou e se unificou a Ele. (Não é melhor praticar esse exercício com freqüência, de modo que isso se torne fácil para nós no momento muito crucial da morte – como o Mahatma Gandhi proferiu Ram, Ram... antes de exalar o seu último suspiro?)

    Qual é esse estado especial que é chamado de Akshara ou Indestrutível que é alcançado pelos iogues avançados? A fim de alcançar esse estado é preciso que se retraiam os sentidos, que se mantenha a mente voltada para o interior, que se focalize a respiração no centro da fronte, que se recite o Mantra OM - que é indestrutível - e que se lembre do Senhor. Aquele que abandonar seu corpo nesse estado alcançará, certamente, o Senhor.

    Quando uma pessoa alcança ou atinge o Senhor, ela não retorna a esse ciclo de nascimento e morte e, portanto, não nasce novamente. Quando vemos, constantemente, todas essas negatividades como a morte e as doenças, então o apego mundano se esvairá, a nossa Vairagya (renúncia aos desejos materiais) crescerá e passaremos a achar importante e necessário alcançar Moksha (liberação). Aquele Senhor em quem tudo está contido e que tudo permeia é, na verdade, alcançável através de uma irrestrita prática de Bhakti, Amor e Devoção.

9. O Conhecimento Secreto e o Grande Mistério
    O Senhor começa esse capítulo asseverando que revelará o conhecimento mais secreto que é fácil de ser praticado e do qual se pode usufruir diretamente. Trata-se do CAMINHO DA DEVOÇÃO que é, na verdade, fácil de ser praticado.

    O Senhor diz que a devoção origina-se do entendimento de que o Senhor está presente em todos os seres, mas, ainda assim, Ele não se restringe a eles. Toda a criação foi produzida pela Mãe Natureza sob a supervisão do Senhor. Os ignorantes que não compreendem isso subestimam o Senhor, enquanto que os seres que possuem uma natureza divina adoram o Senhor. Outros adoram o Senhor dentro de si mesmos, enquanto que outros ainda consideram que o Senhor assume diferentes formas celestiais.

    O Senhor assevera que Ele é, simultaneamente, o adorado, o adorador, o pai, a mãe, o avô, a meta suprema, o sustentador, o soberano, a testemunha, a morada, o amigo, o refúgio, a origem de tudo, a semente e o fim de tudo. As pessoas que adoram o Senhor por um motivo qualquer nascem novamente, mas aqueles que O adoram sem qualquer motivo tornam-se capazes de unir-se a Ele.

    O Senhor afirma que aceita uma folha, uma flor, até mesmo água, quando um verdadeiro devoto oferece-Lhe qualquer uma dessas coisas com amor. Ele diz que todos os nossos atos, sem exceção, devem ser a Ele ofertados e quando todas as ações são executadas dessa forma, tornamo-nos livres dos pecados. O Senhor diz que está presente em todos os seres e quando uma pessoa fixa sua mente no Senhor, unificando-se a Ele e a Ele se entregando completamente, então, sem dúvida alguma, ela alcançará o Senhor.

10. As Manifestações das Glórias Divinas
    Esse capítulo versa sobre os atributos e as glórias de Deus. O conhecimento desses atributos faz surgir Bhakti (devoção) e ajuda a desenvolvê-la. Bhakti é, na verdade, uma meditação saturada de amor. O amor deve ser adquirido através da compreensão da natureza do objeto sobre o qual se medita.

    Há três divisões nesse capítulo. Nos versos de 1 a 11, o Senhor faz a seguinte declaração: “ouça a Minha suprema instrução, pois a falarei para o seu Bem”. O Senhor afirma que uma pessoa se torna livre da ilusão e do pecado, a partir do momento em que compreende que Ele é o Espírito que está presente em todos os seres e que Ele não tem começo e nem fim. O conhecimento de Deus é superior a todas as coisas dá origem a Bhakti. O Senhor assevera que está presente em tudo que é glorioso e significativo. Uma pessoa que é capaz de compreender isso fica com sua mente concentrada no Senhor.

    Nos versos de 12 a 19, Arjuna quer tomar conhecimento das manifestações gloriosas do Senhor na vida e na natureza. Na última seção, o Senhor enumera algumas delas dizendo: “sou o Si (Self, Espírito) ou Gudaakeshah que habita o coração de todos os seres. Sou o início, o meio e o fim de todos os seres vivos”. O Senhor diz ainda que Ele é o Sol entre as luminárias; o Saama Veda entre os Vedas; Shankara entre os Rudras; OM entre as sílabas; Prahalaada entre os Daityas; Raama entre os que portam armas e Arjuna entre os Paandavas. Em suma, o Senhor diz que Ele é a semente de todas as coisas e que sem Ele nada poderia existir.

    Nos últimos versos, o Senhor afirma: “não há limitação alguma para as Minhas manifestações. Saibam que surge de uma centelha do Meu esplendor qualquer ser que exista por mais glorioso, próspero e poderoso que ele seja”. Transpondo essa assertiva para a nossa vida diária, deveríamos nos lembrar, desde logo, do Senhor, sempre que víssemos qualquer coisa excelente ao redor de nós.

11. A Visão da Forma Cósmica
    Arjuna quer ter agora uma experiência direta da divina majestade do Senhor. O Senhor lhe concede um novo poder de percepção intuitiva, com o qual Arjuna se capacita para ter uma experiência direta do divino. O Senhor revela para ele a sua forma cósmica ou Vishvaruupa. Num só instante, Arjuna descobre que tudo aquilo que existe – o passado, o presente e o futuro – emanam do âmago do Senhor. Torna-se difícil para Arjuna vislumbrar a majestade e o esplendor do Senhor, por serem excessivamente grandiosos.

    Arjuna percebe que todos os seres, ao longo do tempo, são inexoravelmente absorvidos pelo Senhor. Arjuna dá-se conta, então, de que só existe uma única vontade e que ela pertence ao Senhor. Arjuna descobre, de antemão, que todos os exércitos - que aguardam o momento da batalha – já foram destruídos pela vontade do Senhor, e que ele próprio é apenas um instrumento para que isso ocorra.

    Essa experiência abala o mais íntimo recanto do coração de Arjuna e ele se entrega plenamente à devoção ao Senhor. No final, Arjuna é informado pelo Senhor de que essa experiência é raramente vivenciada e que, somente através de uma firme e profunda devoção, uma pessoa pode alcançá-la. Por isso, Arjuna é conclamado a ser um devoto fervoroso do Senhor, a fazer com que a Sua vontade seja cumprida e a encarando o Senhor como a coisa mais elevada e a não ter apego à coisa alguma, a não ser e exclusivamente ao Senhor.

12. O Caminho da Devoção
    Arjuna quer saber agora de Shri Krishna quem é o melhor iogue: a) aquele que segue o Caminho da Devoção venerando Deus com forma e atributos como o Ser Supremo ou b) aquele que venera o Absoluto (Brahman) sem forma e sem atributos.

    O Senhor assevera que todos os devotos que veneram Deus com fé e O adoram são louváveis. Entre os dois caminhos, o que consiste em venerar Deus sem forma é muito difícil de ser trilhado pelos seres humanos. O Senhor nos assegura que Ele pessoalmente virá em socorro dos devotos que Lhe dedicam todas as suas ações e que pensam, constante e exclusivamente, Nele.

    Os versos 8 a 12 tratam da prática da devoção. O Senhor diz que todos os seres humanos deveriam praticar uma devoção integral oriunda de seus corações. A concentração pode ser obtida através da prática da ioga e quando isso também se tornar difícil, o Senhor diz que podemos executar qualquer tarefa que agrade a Ele. Quando mesmo isso não for possível, então o indivíduo pode abrir mão de todos os frutos e vantagens de suas ações e dedicá-los ao Senhor, tornando-se assim um Seu devoto. Uma sincera renúncia aos frutos e benefícios das ações é algo muito poderoso e gera, instantaneamente, muita paz.

    Os versos 13 a 20 definem um Bhakta (devoto) ideal. A prática efetiva de algumas qualidades pelo ser humano, com devoção e fé plenas, torna-o extremamente querido por Deus. Essas qualidades tornam o devoto um ser humano ideal.

    O devoto ideal é aquele que:
1. é amigo de todos;
2. é livre de egoísmo e de orgulho;
3. está sempre satisfeito e alegre;
4. é paciente;
5. é firme em seu propósito de se auto-aperfeiçoar;
6. é plenamente entregue ao Senhor;
7. ama e tem afeto sincero por todos;
8. é ciente de que não é autor ou executor de qualquer ação, mas apenas um instrumento de Deus;
9. trata os amigos e inimigos da mesma forma;
10. considera o mundo inteiro como seu lar.

13.  O Campo do Conhecimento (Kshetra) e Seu Conhecedor (Kshetragya)
Os versos de 1 a 6 definem o campo do conhecimento (Kshetra) e seu conhecedor (Kshetragya). O Senhor Krishna afirma que há dois elementos na consciência do ser humano: o objeto a ser conhecido e o sujeito que o conhece, vale dizer, aquilo que é visto e a pessoa que vê. O corpo físico representa o objeto e é chamado de campo (Kshetra). Aquele que vê ou o sujeito é o Espírito ou Jiva (Kshetragya). O Jiva não é apenas uma parte do corpo, mas é diferente dele e tem domínio sobre ele. Num sentido mais amplo, Kshetra ou campo não é somente um corpo individual, mas uma natureza universal e abrange:

1. os cinco elementos (éter, ar, fogo, ar e terra);
2.  o egoísmo;
3. o intelecto;
4. o imanifestado (Muulaa Prakriti – a raiz da matéria);
5. a mente;
6. os cinco objetos dos sentidos;
7. o desejo;
8. o ódio;
9. o prazer e a dor;
10.  a vida e a vitalidade.

Todos os corpos individuais ou Kshetras são constituídos pela combinação desses elementos e, em todos eles, o Senhor é o Conhecedor ou o Kshetragya.
Os versos de 7 a 11 definem o conhecimento e os meios utilizados por ele. O conhecimento consiste em saber a diferença entre o objeto e o sujeito e entre o corpo e a alma. O conhecimento pode ser cultivado através das seguintes qualidades:

1. ausência de orgulho e vaidade;
2. paciência;
3. perseverança;
4. serviço prestado ao mestre;
5. autocontrole;
6. desapego em relação aos objetos dos sentidos;
7. desapego em relação à própria família;
8. intensa devoção ao Senhor.

Todas essas qualidades plasmam o conhecimento e o oposto delas cria a ignorância.

Os versos de 12 a 15 descrevem o objeto a ser conhecido. Ao falar sobre esse tema, o Senhor Krishna explicita aquilo que deve ser conhecido e afirma que aquele que conhece Brahman (o Absoluto) atinge a imortalidade. O Brahman supremo não é Sat (existente) e nem Asat (inexistente). As mãos, os pés, os olhos, a cabeça, a face e todas as demais partes do Senhor permeiam tudo e Ele é supremo. Ele é Aquele que percebe todos os objetos sensoriais, ainda que Ele seja desprovido de todos os sentidos. Embora seja desapegado e sem atributos, o Senhor é Aquele que sustenta todas as qualidades (Gunas) e com elas Se deleita. Ele está fora e dentro de todos os seres. A despeito de ser imóvel, Ele parece estar se movimentando. Ele está perto e, ao mesmo tempo, permanece distante. Ele é sutil, logo é imponderável.

Os versos 16 a 34 tratam do conhecimento como uma descoberta da identidade espiritual da própria pessoa. A recompensa dada pelo conhecimento é a REALIZAÇÃO DE DEUS.

Nos versos de 19 a 22, o Senhor explica as diferenças existentes entre Prakriti e Purusha. Os seres humanos deveriam entender que Deus está presente em todos os seres. Ele é indestrutível. Ele nada faz. Todas as ações são desempenhadas pela Mãe Natureza ou Prakriti. O Senhor diz que quando um indivíduo compreende que ele é uma parte de Deus ou Purusha e não uma parte da impermanente Prakriti, então ele não nascerá novamente. No último verso, Shri Krishna afirma que aquele que entende essa diferença entre Kshetra e Kshetragya, então ele alcança a Realização Divina.

14.  A Diferenciação das Três Gunas da Natureza
O Senhor Krishna afirma que é a natureza é a matriz universal na qual Ele coloca Sua semente. Dessa união, nascem todos os seres e, portanto, Ele é a fonte de toda a criação e seu gerador. O processo contínuo de criação é testemunhado pelo Senhor.

    As três Gunas – Sattva, Rajas e Tamas – têm a sua origem em Prakriti (natureza). As características de cada uma dessas três Gunas são: Sattva – Pureza e Equilíbrio; Rajas – Paixão e Agitação; Tamas – Inércia e Ignorância. 
    Todas as coisas na vida são limitadas e dominadas por essas três Gunas. A vida do ser humano e suas ações são influenciadas por elas.

    Sendo Sattva a Pureza, ela é luminosa e brilhante como um cristal. Está livre do mal e das perturbações. Por isso, ela se vincula e se conecta à felicidade e ao conhecimento.

    Rajas é a fonte do desejo, da luxúria e dos apegos. Por isso, vincula-se à ação, dado que, a partir do desejo e dos apegos, surge a necessidade de agir. Desejar significa ansiar por coisas ainda não alcançadas. Ter apego significa apreciar e querer manter coisas já obtidas.

    Tamas vincula-se à inércia, à preguiça e ao sono.

    As conseqüências da atuação de cada uma dessas Gunas são: Pureza e Equilíbrio emergem de Sattva; Dor e Sofrimento surgem de Rajas e a Ignorância e a Estupidez se originam de Tamas. O que acontece com aqueles que seguem essas Gunas? Os Sattvikas sobem para o Satyaloka – a morada de Brahma; os Raajasikas passam a morar num mundo intermediário e nascem no mundo dos seres humanos; os Taamasikas vão para os mundos inferiores e nascem como criaturas inferiores.

    Aquele que se eleva acima dessas três Gunas é chamado de Trigunaathitha. Ele não mais se identifica com os momentos passageiros de felicidade ou de tristeza, porque compreende que isso são apenas emoções de um corpo físico impermanente e não emanam de seu verdadeiro ser, dado que ele agora está identificado com Deus. Ele se comporta da mesma maneira diante do prazer e da dor e mantém a mesma atitude diante dos amigos e inimigos. Jamais sente que é o verdadeiro executor do que quer que seja. O Senhor conclui afirmando que somente um indivíduo que tenha uma fé completa e uma devoção profunda pode tornar-se um Trigunaathitha e ser capaz de alcançar Brahman.

15. O Caminho para o Espírito Supremo
O Senhor diz que o mundo criado é como uma árvore poderosa cujas raízes estão em Deus, cujos galhos são representados por Brahma e cujas folhas são os Vedas. Aquele que sabe disso, é um conhecedor dos Vedas. Alimentados pelas Gunas, com folhas tenras como os objetos dos sentidos, os galhos se estendem em todas as direções. Aquele que se deixar envolver pelos galhos não poderá compreender de onde eles surgem e nem entender os valores que a árvore produz. O Senhor aconselha a todos que cortem essa árvore com o formidável machado do desapego. O caminho para o Espírito Supremo –  a Realização Divina -  passa pela busca daquele estado supremo a partir do qual evoluiu a criação. Deve-se permanecer nesse estado e meditar sobre ele.

Em seguida, o Senhor explica a Glória e o caráter essencial de Deus. O Senhor afirma que o Seu próprio brilho faz com que fulgurem o Sol e a Lua. Assim também, em relação ao brilho do fogo. Ao penetrar a Terra, o Senhor sustenta todos os seres. Transformando-se na Lua, Ele nutre todas os vegetais. Associando-se ao Prana, isto é, a energia da inspiração, e ao Apana, isto é, a expiração, Ele digere os quatro tipos de alimentos sob a forma de Vaishwanara. O Senhor habita o coração de todos os seres. Emanam do Senhor: a memória, o conhecimento e o esquecimento. Em todos os Vedas, Ele deve ser reconhecido. Ele é o autor da Vedanta e conhece todos os Vedas.

    Nos versos de 16 a 20, o Senhor explica o significado de kshara Purusha, Akshara Purusha e Purushothama. Há dois tipos de Purushas nesse mundo: Kshara ou perecível e o Akshara ou imperecível. Os corpos de todos os seres são perecíveis, enquanto que o Jivatma é imperecível. O Ser Supremo é chamado de Paramatman, que é o Senhor indestrutível. Ele permeia e sustenta os três mundos. O Senhor disse: “Eu transcendo Kshara e Akshara. Sou conhecido no mundo e nos Vedas como Purushothama.  Aquele que Me conhece como Purushothama sabe tudo e Me adora de todo o coração. Quem compreender isso terá cumprido a sua missão na Terra.

16. Os Atributos Divinos e Demoníacos
Nesse capítulo, o Senhor Krishna classifica, claramente, a humanidade de todas as eras e épocas, em duas categorias: os divinamente bons – Devas e os maus – Asuras. Ele descreve as ações desempenhadas por ambos, bem como as conseqüências que advêm delas.

Diferentemente do tipo divino, o tipo maléfico (dos Asuras) é contrário a todos os valores espirituais. Ele não sabe distinguir o que é certo e o que é errado, nem o que é puro e impuro e nem o verdadeiro do falso. Segundo esse tipo não há lugar para Deus no mundo e ele acha que é o mais poderoso. Esse tipo pretende somente acumular riquezas, destruir seus inimigos, satisfazer a sua luxúria e ganhar fama e prestígio custe o que custar. Esse tipo tenta explorar e torturar os seus semelhantes e não tem nenhum respeito por Deus.

O tipo divino é puro, destemido, controlado, generoso, amoroso, confiável, paciente e não tem vaidade e nem orgulho.

Quais são os efeitos das ações desses dois tipos? A natureza divina conduz à liberação, enquanto que a natureza demoníaca leva à escravidão. O Senhor assegura a Arjuna que ele nasceu com qualidades divinas.

Para o tipo demoníaco, o ego é a coisa suprema e ele acha que é capaz de fazer e de executar qualquer coisa. Esse tipo torna-se habituado aos prazeres dos sentidos e vive num inferno. Soberbo, obstinado, cheio de orgulho e intoxicado pela riqueza, ele realiza os rituais de sacrifício em nome da ostentação, contrariamente ao que estatuem as regras das Escrituras. Além disso, iludidas pelo falso ego, pela luxúria, pelo orgulho, pela raiva e pela sensação de poder e de força, essas pessoas maliciosas tornam-se invejosas em relação ao Senhor que está presente em seus próprios corpos e nos dos outros.

O Senhor assevera que os seres humanos perversos e invejosos decaem cada vez mais, a cada dia, e nascem, repetidas vezes, no mundo material através de vários tipos demoníacos. Eles não conseguem aproximar-se de Deus e entregam-se ao tipo de existência mais abominável.

Como é que se pode evitar cair nesse inferno? Isso pode ser feito se se evitarem três coisas: Kama (luxúria), Krodha (raiva) e Lobha (ganância). Todos os seres humanos sadios deveriam evitar esses três obstáculos. Quando isso é evitado, então o indivíduo executa ações que conduzem à Realização Divina e alcança, gradativamente, a meta suprema. No entanto, se o indivíduo optar por abandonar as regras do bom comportamento e fizer o que lhe der na telha, então ele não alcançará a perfeição, a felicidade ou a Realização de Deus. O Senhor diz que deveríamos compreender o que é o Dharma (dever) e o Adharma, conforme rezam as Escrituras, antes de começarmos a trabalhar, de modo que as nossas atividades possam nos conduzir à Realização de Deus.

17. Os Três Tipos de Fé (Shraddhaa)

No início desse capítulo, Arjuna pergunta acerca da posição daqueles que adoram Deus com fé. Em resposta a isso, o Senhor descreve os três tipos de fé baseadas nas três Gunas e afirma que o caráter de um indivíduo é determinado pela sua fé. A fé do ser humano é determinada pela dominância de uma ou de outra das três qualidades da natureza, vale dizer, Sattva, Rajas e Tamas. As suas preferências em relação aos objetos de adoração, aos alimentos, às atividades, etc., dependerão do tipo de sua fé (Shraddhaa).

Tudo aquilo que é feito sem orgulho, mas cuja motivação é o bem dos outros e leva em consideração a graça de Deus é algo com as características de Sattva, ou seja, Pureza e Equilíbrio.

Tudo aquilo que é buscado ou feito com desejo, com vaidade ou com a busca de recompensas tem as peculiaridades de Rajas, ou seja, Paixão e Agitação.
Tudo aquilo que é realizado com indiferença, com má vontade ou impensadamente é Tamas. Tal conduta é fútil em relação à evolução mais elevada do ser humano.

O versos de 23 a 28 tratam das sílabas sagradas OM, TAT e SAT que indicam uma mentalidade impregnada de espiritualidade. Seja o que for que um indivíduo oferecer a Deus, proferindo essas sílabas, promoverá o seu progresso espiritual. Todos os rituais, todos os sacrifícios e todas as ações caritativas não produzirão quaisquer efeitos se não forem alicerçadas pela fé.

18. A Liberação Através da Renúncia

Esse capítulo é um sumário de todas as instruções ministradas pelo Senhor até agora, de uma forma condensada. Na abertura, Arjuna está fazendo uma indagação. Ele pergunta ao Senhor Krishna: “Senhor, dize-me quais são as características essenciais da SANYAASA e de TYAAGA, isto é, da renúncia e do abandono. Eis a resposta do Senhor:“Sanyaasa consiste na renúncia do egoísmo, da idéia de que alguém realiza alguma coisa. Tyaaga é o abandono dos frutos de todas as ações ”.

    Em seguida, o Senhor faz uma exaustiva análise das três Gunas, mostrando os graus variados daquilo que determina a personalidade e o comportamento de cada indivíduo. Em primeiro lugar, Tyaaga baseada nas três Gunas.

O abandono dos frutos da ação (Tyaaga) e as Gunas
O abandono (Tyaaga) tem as características de Sattva, quando um indivíduo cumpre bem e prontamente as suas obrigações sem apego, quer em relação às ações, quer em relação aos seus resultados. Um indivíduo que age com essa atitude desinteressada cumpre o seu dever sem pensar em obter quaisquer vantagens para si mesmo.

O abandono tem as características de Rajas, quando um indivíduo abre mão de agir por causa do medo de ter problemas.
O abandono tem as características de Tamas, quando alguém não cumpre e abandona as suas obrigações.

Assim sendo, um verdadeiro Tyaagi ou aquele ser humano que abre mão, verdadeiramente, dos frutos da ação é aquele para quem o dever (Dharma) não tem aspectos nem agradáveis e nem desagradáveis, nem dignos e nem indignos. Ele obtém satisfação do desempenho de quaisquer tipos de trabalho.

O Conhecimento e as Gunas

O Senhor Krishna classifica então o conhecimento com base nas três Gunas. O conhecimento pelo qual o Ser Indestrutível (Paramatman) é visto em toda a existência é um conhecimento com as características de Sattva.

O conhecimento pelo qual não se reconhece a unicidade da existência é um conhecimento com as características de Rajas.

O conhecimento pelo qual se nega a existência de um poder mais elevado e inspirado por alguém que está mergulhado nos prazeres do mundo é um conhecimento que tem as características de Tamas.

Semelhantemente, uma ação que é realizada sem ódio ou amor, sem desejo de obter os seus frutos é uma ação baseada em Sattva. Uma ação que visa gratificar um desejo é calcada em Rajas. As ações descuidadas ou irresponsáveis são caracterizadas por Tamas.

Os Executores das Ações e as Gunas


Os executores das ações também podem ser classificados segundo as Gunas. Um executor Sáttvico é aquele que age com muita alegria. Para ele, o trabalho significa a adoração do Senhor. Um executor Rajásico atua motivado pelo lucro. Ele não titubeia em prejudicar os outros a fim de assegurar os seus interesses. Para ele, o trabalho significa esforço. Um executor Tamásico é aquele que calcula o máximo de benefícios com um mínimo de esforço. Ele é arrogante, experto e queixoso por natureza.

O Intelecto (Buddhi) e as Gunas


A compreensão correta ou Buddhi pode também ser classificada da mesma maneira. Buddhi é Sáttvico quando diferencia um trabalho construtivo e um trabalho destrutivo, isto é, entre algo que vinculará alguém à existência material e algo que o libertará. Buddhi é Rajásico quando toma o certo por errado e o errado por certo. Buddhi é Tamásico quando chega a conclusões erradas e emite julgamentos equivocados.

A Firmeza (Dhriti) e as Gunas


Em seguida, o Senhor classifica a firmeza ou Dhriti. A firmeza é Sáttvica quando existe uma forte persistência que leva a pessoa a elevar-se novamente, a despeito de todos os seus fracassos diante dos desafios da carne. A firmeza é Rajásica quando existe um propósito consistente de acumular riquezas e usufruir dos prazeres materiais, a fim de assegurar a felicidade para a própria pessoa. A firmeza é Tamásica quando existe, por parte de alguém, uma grande obstinação em manter a sua estupidez, o seu medo, a sua tristeza ou o seu orgulho.

A Felicidade e as Gunas

No passo seguinte, o Senhor explicita o que é a Felicidade ou Sukha. A felicidade é Sáttvica quando existe uma felicidade duradoura combinada com um sentimento de segurança e plenitude. A felicidade é Rajásica quando existe uma alegria efêmera que é produzida quando os órgãos dos sentidos experimentam uma agitação emocional. A felicidade é Tamásica quando alguém sente uma alegria vã nos atos de dormir ou de comer (nesse último caso, principalmente em relação aos doces e mais doces...).

Os Quatro Tipos de Seres Humanos

O Senhor Krishna classifica, em seguida, a humanidade em quatro tipos: Brâmanes (sacerdotes e intelectuais), Kshatriyas (guerreiros), Vaisyas (empresários) e Sudras (empregados). Cada indivíduo vem ao mundo com um conjunto de Vasanas adquiridas em vidas passadas estimuladas pelas três Gunas. O nascimento de um indivíduo numa determinada família ou num determinado meio ambiente é determinado por suas próprias ações em vidas passadas. As obrigações e deveres atribuídos a um indivíduo são baseados em sua natureza e em sua competência para executar um determinado tipo de trabalho. Um indivíduo alcança a felicidade quando é fiel e leal aos deveres que lhe são atribuídos. O cumprimento de seus próprios deveres é muito melhor, de qualquer modo, do que um excelente desempenho dos deveres que cabem a uma outra pessoa. Ninguém incorre em pecado por cumprir as suas próprias obrigações, as quais estão de acordo com as próprias Vasanas trazidas pela pessoa.

Shri Krishna diz então a Arjuna que ele é muito querido por Ele e, por isso, lhe revela o segredo da sabedoria mais elevada, que é a que se segue:

“REFUGIE-SE SEMPRE EM DEUS.
DESEMPENHE TODAS AS SUAS OBRIGAÇÕES.
CONCENTRE SEMPRE A SUA MENTE EM DEUS.
DEDIQUE TODAS AS SUAS AÇÕES A DEUS COM A FIRME FÉ DE QUE ELE É A META SUPREMA DA EXISTÊNCIA HUMANA.
ENTREGUE-SE TOTALMENTE A DEUS E ELE O LIBERTARÁ DE SEUS PECADOS.
LOGO, NÃO HAVERÁ MOTIVO PARA ENTRISTECER-SE”.

Em seguida, Shri Krishna afirma que esses ensinamentos não devem ser compartilhados com aqueles que não têm disciplina mental, ou com aqueles que não têm uma fé firme no Senhor, ou que não realizam um serviço desinteressado e, acima de tudo, com aqueles que não sentem o chamamento inspirado em buscar o Senhor.

Finalmente, o Senhor diz que é o mais querido por Ele: aquele que compartilha esse conhecimento com estudiosos espirituais honestos. O estudo do Bhagavad Gita é uma grande oferenda ao Senhor (um grande Yagna ou sacrifício), dado que o estudioso oferece a sua ignorância para que seja queimada no fogo do conhecimento. Até mesmo aqueles que apenas ouvirem a recitação do Bhagavad Gita - desde que tenham fé no Senhor - alcançarão a terra dos indivíduos valiosos e meritórios, o mundo de paz e de alegria e as reações de suas pretéritas transgressões não atuarão mais sobre eles.

EPÍLOGO: A Mensagem de Adeus do Senhor Krishna

O Senhor Krishna, na véspera de Sua partida da arena desse mundo, após ter terminado a tarefa difícil de estabelecer o Dharma, proferiu o Seu último discurso ao seu amigo Uddhava que também era Seu devoto e seguidor mais querido. No final de um longo sermão que compreendia mais de mil versos Uddhava disse: Oh, Senhor, penso que a conquista da ioga conforme o Senhor narrou (para Arjuna, e agora) para mim, é muito difícil, verdadeiramente, para a maioria das pessoas, dado que ela exige o controle dos sentidos rebeldes. Por favor, ensina-me um caminho curto, simples e fácil para se alcançar a Realização de Deus. O Senhor Krishna, a pedido de Uddhava, ensinou os aspectos essenciais da Auto-realização para a idade moderna, conforme se vê abaixo:  

Cumpra seu dever, com as melhores de suas habilidades, para com o Senhor, sem quaisquer motivos egoísticos, e lembre-se de Deus em todos os momentos – antes de começar um trabalho, quando terminar uma tarefa e quando estiver inativo.

Adote a prática de olhar todas as criaturas como se estivesse olhando para Mim (Deus) nos pensamentos, nas palavras e nas ações; e, mentalmente, incline-se diante de todas as criaturas.

Desperte o poder adormecido da Kundalini – através dos poderes da Ioga – e sinta que o poder de Deus está com você em todos os momentos: através das atividades da mente, dos sentidos, da respiração e das emoções. O poder de Deus realiza todo o trabalho e se serve de você como um mero instrumento. Deus está em tudo, mas está também acima de tudo.
OM SHANTIH, SHANTIH, SHANTIH  - OM PAZ, PAZ

Fonte :   apostila do Vishudhi Chacra da Sahaja Yoga