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30 de novembro de 2011

O Problema do Ego

Trecho de Palestra realizada em 22.10.1979, em Caxton Hall, Londres
Transcrição completa ou áudio dessa palestra, em inglês, aqui
 

Pensei em lhes falar hoje sobre os problemas criados pelo ego, porque eles dizem respeito a todo mundo. Muitas pessoas começam a trilhar caminhos errados (ego-trip) e não sabem como sair deles.

Inicialmente, vou abordar a formação do ego e seu impacto. Em seguida, irei analisá-lo e mostrarei seu verdadeiro aspecto, conforme é preciso que ele seja compreendido.

Agnya Chacra:
Como sabem, o ego corresponde ao Agnya Chacra direito e se localiza na têmpora esquerda, devido ao fenômeno da lateralidade cruzada. A cor amarela representa o ego. O ego assume a forma de um balão. Ele começa no segundo Chacra, Swadisthan. O amarelo é a cor da bílis. O Swadisthan Chacra, que é o responsável por nossa criatividade, está diretamente ligado ao ego. Quando o Swadisthan começa a girar perto do Void (chamado também de vazio ou de oceano de ilusões), entre o terceiro e o quarto Chacras, atingindo as diversas partes do Void, ele absorve todos os problemas localizados no Void.


Void:
O Void é um círculo verde, inscrito ao redor do Nabhi Chacra, no qual se localizam o útero, os rins, os intestinos, os condutores nervosos aferentes e deferentes, a parte superior do fígado, o pâncreas e o baço.

Swadhistana:
Todos os problemas desses órgãos são regidos pelo Swadisthan, que se move e se origina no Nabhi Chacra. Ele descreve um movimento rotativo e capta todos os problemas. Ele alimenta todos esses órgãos com energia vital e engendra também a energia necessária à nossa criatividade. Ele absorve, também, as células lipídicas (gordura da região do Void) e as converte em células apropriadas ao cérebro, vale dizer, em matéria cinzenta.
O Swadisthan é o Chacra que desempenha todo esse trabalho. Externamente, ele se manifesta como o plexo aórtico, porque fisicamente é assim que ele é chamado, e ele compreende 6 (seis) subplexos que se encarregam de todos os órgãos citados.Tudo isso diz respeito à nossa capacidade de agir. Quando nós entramos em ação, é esse Chacra (Swadisthan)que se põe a trabalhar.
Através de seu primeiro vetor energético, que se encontra à esquerda desse Chakra, nós elaboramos nossos desejos. Através de seu segundo vetor, nós entramos em ação: trata-se do Kriya Chacra  (Kriya Shakti).
  
Ação e ego:
Quando o processo da ação se instala em nós, ele cria, nos órgãos supracitados, todos os tipos de efeitos secundários, ou de problemas, que devem ser depositados em algum lugar. Eles são armazenados no cérebro, sob a forma de ego.

Todos os problemas que resultam da nossa criatividade e da ação de todos esses órgãos devem ser contrabalançados. O ego se desenvolve para funcionar como contrapeso.

Por exemplo, para vir aqui encontrá-los, precisei me vestir, sair de casa, entrar no carro...Seja o que for que Eu tenha de fazer, sou obrigada a  fazer sempre um esforço, devo imaginar o que é que vou lhes dizer (não faço isso, mas a maioria das pessoas precisa fazê-lo). Fiz assim um esforço para chegar até aqui.
Por que razão se justificaria esse esforço? Qual é a satisfação que se pode tirar do fato de se ter feito esse esforço, essa Kriya, essa ação?

Nós estamos sempre realizando alguma ação. Por que deveríamos fazê-lo? Qualquer que seja a nossa ação, ela implica em fadiga, em preocupação, em dificuldades. Melhor seria que ficássemos em casa, e não fizéssemos nada.
No entanto, não é isso que fazemos: nós enfrentamos os desafios e efetuamos isso com a  energia do nosso lado direito, nossa Kriya Shakti. E pelo fato de agirmos, geramos satisfação para nós mesmos. O resultado desse processo todo é o desenvolvimento do ego.

Se nós não tivéssemos ego, nós não poderíamos fazer nada. Isso é um fato. Por outro lado, é o ego que torna racionais todas as nossas besteiras e justifica todas as armadilhas nas quais nós nos lançamos. Se nós não tivéssemos ego, nós não nos deixaríamos levar por todas essas sandices. Quanto mais  racionalizamos as nossas ações, mais o ego se desenvolve para se satisfazer: vocês são aqueles que tiveram sucesso, têm isso, possuem aquilo, etc.
Todos os tipos de equívocos se instalam quando o seu ego começa a se inflar dessa maneira. Eu deveria dizer: quando nos tornamos satisfeitos com o nosso ego. Na realidade, nós nos extraviamos. Nós nos identificamos com o nosso ego e não com o nosso verdadeiro Ser (Si).

Você é um gênio:
Dessa forma, quando pintam um belo quadro, vocês gostariam que as pessoas o apreciassem. Se as pessoas não apreciarem o seu quadro, vocês ficarão com a impressão de nada terem feito, ainda que o quadro seja de excelente qualidade artística. Assim sendo, a menos que as pessoas reconheçam seu trabalho, vocês não se sentirão insatisfeitos, porque elas devem dizer que vocês são excelentes, que são especiais.

Muitos artistas, que criaram grandes obras de arte, caíram na armadilha das falsas identificações. A não ser quando criavam uma obra de arte, eles não podiam encontrar satisfação na arte, porquanto eles precisavam passar pelo ego. E o Senhor ego somente se satisfaz quando as pessoas o reconhecem: "sim, sim, isso é magnífico, você é um gênio... etc..." É dessa forma que o ego se desenvolve em nós.

Há outras situações nas quais não fazemos nada e, no entanto, queremos nos atribuir o mérito de tê-las feito. Esse é o caso das pessoas que chamamos de egoístas ou egocêntricas. Elas sempre atribuem o caráter de "nós" ao seu ego. Mas, temos todos nós esse ego reinando na nossa cabeça.
Quando ele começa a inflar, quanto mais sucesso tivermos, mais ele impera e, cada vez mais,  ele se torna pior. Esse processo de inchação do ego ocorre, também, quando vocês o alimentam com muitos projetos e com muitos pensamentos. O balão do ego se torna inflado, como se tivessem enchido esse balão. Quanto maior ele ficar, menor será a possibilidade de perceberem que vocês não são esse ego.

Em seguida, vocês experimentam o prazer de serem elogiados. Todas as pessoas dizem: "Você é uma pessoa excepcional !" Nesse processo, parece haver o envolvimento de toda a sociedade.

Falamos do que ocorre hoje em dia, como são concedidos os títulos acadêmicos de mestres e doutores, os quais nós ostentamos como bandeiras, esperando que as pessoas nos respeitem por causa deles. Sentimos que fomos reconhecidos, e por isso, achamos que devemos ser verdadeiramente pessoas de um nível excepcional ! Nós aceitamos essas distinções e queremos mantê-las. Essa conduta nos compromete duplamente, ainda que tenhamos sido recompensados por algo que realmente fizemos.

O ego reclama seu alimento:
Essa também pode ser a causa de comportamentos absurdos. Imaginem uma pessoa que não encontra sentido na vida da sociedade à qual pertence. Essa pessoa irá para a Oxford Street vestida com roupas ridículas e começará a saltar, a cantar besteiras e a se comportar de maneira totalmente extravagante. Vocês já viram muitas pessoas que tingem seus cabelos de várias cores e que colocam lápis no nariz, unicamente, para chamar a atenção dos outros. Nós, muitas vezes, queremos atrair a atenção dos outros, porque nosso ego nunca está satisfeito. O ego jamais fica satisfeito.

O ego reclama ainda e sempre de mais alimento, e quer ter mais prazer. Quando um ego inflado dessa maneira em nós se instala, nós somos incapazes de compreender o que fazemos, e podemos ser facilmente enganados. É muito mais fácil enrolar alguém que está centrado em seu ego, do que ludibriar pessoas simples.

Uma pessoa de coração simples não pode ser enrolada facilmente, porque ela não se engana a si mesma. Mas se disserem às pessoas que idolatram seus egos: "eis aqui o melhor caminho para se ir ao inferno", elas farão fila para lá reservarem seus lugares.

Falsos gurus e a inflação do ego:
Foi dessa maneira que muitos gurus vieram para o Ocidente, fizeram propaganda e conseguiram iludir muitas pessoas, prometendo-lhes muitos poderes e dizendo que isso ou aquilo iria ocorrer. Esses gurus se especializaram em inflar o ego das pessoas.

Por exemplo, esses gurus podem pretender que existe uma sociedade mundial de espiritualidade da qual vocês são os chefes e vocês podem acreditar nisso!
O ego significa: uma apropriação indébita de qualquer coisa que não pertence a vocês. Acreditam nele porque, afinal de contas, vocês acham que devem ser alguém muito importante e que fizeram isso ou aquilo.

Integração do cérebro com o coração:
Em verdade, o que é que se passa fisicamente quando esse balão invade toda a sua cabeça? A aura do cérebro rodeia o coração. Isso acontece em menor escala nos casos normais. Não obstante, quando há um problema de ego, é o ego que rodeia o coração. E quando o ego rodeia o coração, o cérebro fica desligado do coração. Então, não estão mais integrados. Poder-se-ia dizer que se transformaram em pessoas "desintegradas": o coração de vocês passa a funcionar num sentido, enquanto que o seu cérebro funciona em outro sentido, seu corpo numa terceira direção e suas emoções funcionam num quarto sentido. Vocês se transformam em quatro pessoas que montam quatro cavalos. Dessa forma, se tornam completamente dilacerados.

Já é quase impossível para vocês se manterem sobre dois bancos, imaginem só se há quatro (isto é, o coração, o cérebro, o corpo e as emoções)! E vocês só têm duas pernas! O simples existir se torna uma tarefa hercúlea para vocês.
É assim que essa "viagem do ego"(que é um descontrole do ser por causa do ego) se instala e vocês começam a se comportar e viver nesse mundo de maneira muito anormal.

Assim sendo, se alguém vier vê-los e lhes disser: "Não, não quero me relacionar com os seus egos, porque eles não são vocês, devem ser vocês mesmos e não devem se contentar com esses egos", mesmo porque vocês, no fundo, não gostam disso.

Portanto, estão muito acima do ego, vocês são muito maiores do que o seu ego, bem mais do que aquilo que podem esperar do ego.
Ou melhor, o que é que podem fazer com o seu ego? Ou ainda, o que é que podem fazer? O que é que as pessoas obtiveram com o seu ego?  Nada!  Seja o que for que tenham descoberto, mesmo na área científica, tudo isso vem do desconhecido, surge do próprio tesouro Divino.

Se Deus nos outorgou alguns conhecimentos acerca de seu Mistério,  não deveríamos nos vangloriar, dizendo: "Oh, eis aqui algo que nós descobrimos" ! Não. Na sua Graça, ele nos concedeu esse conhecimento. Aceitem-no, com humildade.

O ego e a busca:
O ego é ainda mais perigoso para o despertar da Kundalini. Observem o esquema referente aos Chacras e imaginem se a sua cabeça fosse totalmente coberta por essa substância amarela e que o azul se tornasse minúsculo: o próprio desejo da busca, da procura, ficaria diminuído.

Vocês compreendem e levam avante a sua busca do Divino, como se escolhessem cerebrinamente um filme e fossem ao cinema: não há interação entre o seu cérebro e seu coração. Não procuram nada com o seu coração, mas apenas com o seu cérebro. Lêem três ou quatro livros, porque está na moda procurar Deus, e todas as pessoas adquirem um ar de que estão buscando algo, e por isso, também querem entrar nessa onda de buscar Deus!

A busca surge no coração:
No entanto, essa busca não surge do seu coração, porque podem constatar que a atividade de seu coração se tornou praticamente nula. Vocês mesmos nada desejam, é o seu ego que deseja. Seu ego os indispõe com tudo e os perturba, porque ele precisa proclamar, continuamente, que vocês são pessoas extraordinárias, especiais e únicas. Somente assim ficam satisfeitos.
Tudo isso os afasta completamente de seu coração!É por esse motivo que não podem sentir alegria, porque a alegria apenas pode ser descoberta pelo coração !

Ego e as doenças:
Dessa forma, o Senhor ego lhes dá alguma satisfação. Sem embargo, ela é tão passageira, tão superficial! Essa satisfação não os leva a lugar algum. E esse egocentrismo provoca todos os tipos de doenças como o diabetes, as crises cardíacas, provavelmente o câncer e a artrite. Pensar muito dá origem às paralisias, às fraquezas renais. Porém, o pior acontece com o fígado.
A hiperacidez faz com que nós negligenciemos o fígado. E é o fígado que menos nos inquieta! Se disserem a uma criança para não comer chocolate, ela não poderá passar sem ele, é quase impossível. Assim sendo, por que não parar de dar chocolate às crianças? As crianças não podem digerir chocolate porque o fígado delas não agüenta. Preparem para as crianças alimentos que elas possam digerir facilmente, desde muito cedo, e mais tarde, diluam até mesmo o chocolate. Dirão que isso não é possível, mas progressivamente, elas esquecerão o chocolate.

Estressado e mal-humorado:
Quando começam a sentir os problemas hepáticos, vocês se tornam magros, fracos, pálidos, agressivos, sempre prontos a reclamar, a nutrir rancores, a suspirar ou a se queixar de algo. Jamais estarão alegres ou bem-humorados. Vocês chamam isso de tensão, estresse ou melancolia. Porém, tudo isso nada mais é do que a hiperatividade desse segundo Chacra (Swadisthan). A tensão vem do fato de que tudo é recoberto por esse balão do ego, sendo que esse balão não pára nunca de inflar. É necessário que ele seja esvaziado.

A Sahaja Yoga é, na verdade, o único meio que temos para enfrentar o nosso ego. Porque somente a Sahaja Yoga permite que vejamos nós mesmos, que vejamos o nosso Si.

Encarar a si mesmo:
É impossível para os seres humanos se olharem de frente. Mesmo após a Realização, as pessoas acham isso difícil. No que concerne às nossas falsas identificações, por exemplo, admitindo-se que Me encontre aqui com os meus discípulos ingleses. Eu só poderia falar a respeito das "falsas identificações" dos ingleses, após ter criticado os japoneses, os gregos, os hindus do mundo todo, e o resto do planeta. Somente após ter feito isso, Poderia me arriscar a dizer qualquer coisa a respeito dos ingleses.
A não ser que Eu condenasse o mundo todo em todos os níveis, não poderia falar de certas "falsas identificações" que seriam também as nossas, que estão também em nossas cabeças, que nos oprimem e mediante as quais nós oprimimos os outros.

Ego trip:
Essa "viagem do ego" (ego trip) está muito arraigada em nossa Sociedade, ela é assaz preponderante, e lhes peço desculpas, porque falo aqui da Sociedade ocidental. Quando se trata da Índia, falo dos indianos, mas agora, é a vocês que falo e lhes peço que pensem no fato de que também sou ocidental. Posso, então, lhes falar como uma pessoa ocidental e isso não me perturba.

Tomemos um exemplo muito simples e muito comum: nós precisamos ir à mesa para jantar. A comida está lá porque Deus mostrou-se bom para nós, ela é para o nosso bem-estar, para compartilhar a nossa amizade é lá que vamos nos sentar. Em qualquer jantar um pouco formal, é preciso que se delibere dez vezes para se saber em que lugar se colocará o Senhor X e qual será o lugar do Senhor Y.

Se houver qualquer erro quanto ao lugar dos convivas no que diz respeito à cor de seus cabelos, ao seu porte, ao seu nariz, à sua data de nascimento, ao comprimento de suas pernas ou de seus braços, esse erro aparecerá imediatamente no "Quem é Quem", sendo que todo o prazer de haver reunido os amigos, bem como o prazer de haver criado a amizade, ficarão perdidos. Todos os esforços terão sido feitos em vão, e vocês se perguntarão o que é que fizeram para que tudo redundasse num fiasco. E  descobrirão que o Senhor X que nasceu um dia depois do Senhor Y ocupou um lugar melhor que o deste! Que calamidade!
  
Besteiras do ego:
É com esse tipo de besteiras que nós enchemos o nosso ego. É preciso que erradiquemos tudo isso dos nossos hábitos. Mesmo que haja trezentas pessoas, elas encontrarão seus assentos, e se não, elas esperarão um segundo ou terceiro serviço. Para que tanta pressa? Todas as pessoas poderão sentir um certo mal-estar, e nós nos daremos conta de que, a despeito de todo o nosso planejamento, todos os nossos cálculos terminaram mal.

É por causa disso que devemos ser como as crianças. A elas pouco importa em que lugar se sentarão, desde que simplesmente se acomodem. Nós pretendemos ser adultos e achamos que as crianças são ainda inocentes e que elas devem crescer. Mas o que tem crescido em nós é o nosso ego e não o nosso Si.
Vocês leram nos jornais de hoje a história de um malfeitor. Ele não é um psicopata, é apenas uma pessoa que quer fazer uma "viagem do ego". Comete os seus crimes para satisfazer seu ego: envia mensagens à polícia dizendo que ele pode ser preso em tal lugar. E como a polícia não consegue prendê-lo, pensa: "que grande ladrão sou, o maior dos ladrões, pois ninguém consegue prender-me!".

Como chamar a um homem que não está satisfeito, se seu ego também não está?...
Vejamos agora como é que poderemos vencer esse ego, desde que, progressivamente, percebamos a sua existência. Isso acontece. Vemos o Senhor ego: “oh, lá está ele na iminência de me dar idéias". E muitas vezes nos sentimos deprimidos em ver quanto nos identificamos com ele.
A ordem é a que segue: vocês percebem seu ego. E quando percebem seu ego, o que é que devem fazer com ele? Se alguém lhes disser: "Seria bom que vigiassem seu ego". O que é que acontece? Vocês o combatem e afirmam que não são o seu ego.

Ego x superego:
Deixem as pessoas dizerem o que elas quiserem. Quando combatem o ego, vocês mudam de estilo e se transformam em pessoas afetadas pelo superego. Cada um de vocês ainda está cheio de desejos do tipo: "não farei isso, deixo que os outros me ataquem, não agredirei ninguém, evitarei agredir quem quer que seja".
O que é que acontece quando adotam uma atitude desse tipo? Em provocando o lado esquerdo (acima do quiasma ótico, isto é, em fazendo com que o lado direito fique abaixo do quiasma), o superego de fato esvazia o ego, mas ele, por sua vez, também fica inflado, vale dizer, os dois se incham alternadamente. Quanto mais combaterem o ego, mais ele invadirá a sua cabeça. Portanto, não o combatam frontalmente.

É como se fosse um balão de borracha: se derem uma palmada nele para dentro, ele virá em sua direção; se o lançarem para fora, ele voltará logo após para vocês e isso acontecerá indefinidamente.


Rir de si mesmos:
Através de que maneira, então, poderemos esvaziar esse ego? Como é que se esvazia um balão cheio? A situação é a mesma: pegamos um alfinete e o espetamos. Olhem-se e digam para si mesmos: "Pois bem, querido Senhor fulano, como vai você?" Em seguida, devem rir de si mesmos! Digam para o ego: "Ah, você é muito infeliz, porque não o colocaram no lugar que você merece e que deveria ser seu!" Dessa maneira, já conseguiram fazer um furo no balão do ego. Essa é a maneira de esvaziar o ego: vendo-o claramente e fazendo chacota dele sem parar, mediante pequenos golpes de alfinete.
Porém, não tentem reprimi-lo ou matá-lo. De fato, devem se aproximar dele "alfinetando-o", e fazendo nele um orifício (através do qual as suas falsas identificações poderão ser diminuídas ou extirpadas).

Apenas os seres humanos sabem rir de si mesmos. Nenhum animal é capaz de fazer isso. Se aprenderem a rir de si mesmos, reduzirão muito o seu ego. Se não puderem rir de si mesmos, o seu ego continuará a lhes sugerir que deveriam fazer isso, que aquilo é melhor, que, seja o que for,  "Eu" faço tudo muito bem. Irão agredir os outros, irão tiranizá-los em permanecendo uma marionete nas mãos do ego, como se fossem pessoas desmioladas.

Pode ser que vocês sejam verdadeiramente desmiolados. Mas, o importante é que tenham consciência disso. Porque o ego lhes traz o sucesso, vocês se tornam brilhantes, competitivos, e ninguém se atreveria a dizer-lhes nada, pois ganharia um soco na cara, e vocês, cada vez mais se tornam poderosos e respeitados, e todas as pessoas aspiram atingir um prestígio igual ao seu.
Porém, chega um momento em que percebem que estão planejando no vazio, porquanto se esquecem de suas raízes e aí então cada um de vocês se dá conta de que: "Agora, devo voltar à realidade".

Como na história: "Humpty-Dumpty estava sentado sobre um muro; ele caiu do muro e todos os cavalos do rei e todos os homens reunidos não foram capazes de dar-lhe o seu aspecto de origem". Não sejam como Humpty-Dumpty e nem vivam com a idéia de que devem combater seu ego a qualquer custo.
Isso acontece, muito freqüentemente na Sahaja Yoga. A sua própria Kundalini cria, às vezes, situações tais que fazem com que vocês fiquem irritados com o seu ego.

Ocupem de si mesmos:
Vocês não têm que julgar os outros. Vejam a si mesmos, isso é do seu próprio interesse. Se alguém é egocêntrico ou não, isso não importa. A única coisa que importa realmente é que se ocupem de si mesmos. Se faço uma conferência, vocês pensam imediatamente em alguém que acham que é egocêntrico. Em verdade, falo para cada um de vocês, e enquanto estiver falando, cada um deve pensar apenas em si mesmo.

Quando o ego recobre a totalidade de sua cabeça e todo o sétimo Chacra, Sahasrara (que tem a cor branca), torna-se muito difícil para a Kundalini, que ascende pelo canal central, perfurar essa coisa opaca, essa cobertura.


Passando pela porta:
O ego (que está localizado na têmpora esquerda) tornou-se enorme, enquanto que o superego (que se localiza na têmpora direita) ficou minúsculo. Assim sendo, a única brecha fica no meio dos dois. Ainda que seja difícil,  devem abrir essa brecha, porque é imprescindível que ela esteja aberta, para que a Kundalini possa seguir seu caminho ascendente. Dessa forma, a têmpora esquerda (o ego) deve ser reduzida a proporções mínimas, e a têmpora direita (o superego) deve ser normalizada, porque somente assim a Kundalini poderá subir e passar pela porta do Agnya Chacra em direção ao Sahasrara.

O que acontece em tais condições? Vocês constatarão que muitas pessoas têm um lado esquerdo muito fraco e um lado direito cheio de pulsações. É preciso que essas pessoas subam e fortaleçam o seu lado esquerdo e o projetem sobre o lado direito. Isso deve ser feito muitas vezes. Assim, vocês fazem com que o ego desça pelo canal simpático direito (Pingala Nadi).

Shri Vidya:
Quando o ego fica bem reduzido, a corrente de energia sobe pelo canal simpático esquerdo (Ida Nadi), e é criado um intervalo no meio. Somente após a criação desse intervalo, poderão fazer com que a Kundalini ascenda através do canal central (Sushumna Nadi). Quando a Kundalini alcançar o cume do Sahasrara, devem fixá-la naquele ponto.Com isso alcançam o estado de Shri Vidya, o conhecimento de Shri, o conhecimento do Espírito Santo.

Todos os demais conhecimentos, tais como: onde devem sentar-se, ou qual o protocolo que deve ser seguido, são uma grande inutilidade, quando comparados com o supremo conhecimento do Espírito Santo. Se se tratasse de ler o Quem é Quem, Eu não saberia dizer o que sucederá com vocês! Quem sabe monstros, uma espécie de Frankenstein !

Isso é Vidya. Shri Vidya é a Vidya secreta, o conhecimento do Espírito Santo, mediante o qual seu ego e seu superego são postos em equilíbrio, e os seus desejos e suas ações adquirem pesos equivalentes. Após isso, devem elevar a Kundalini e mantê-la no Sahasrara.

Em nossos dias, "almas realizadas" tentaram atrair a atenção para os problemas que são criados pelo ego: o ego é o pior perigo que existe; vocês não deveriam se identificar com ele, ou, ainda, não deveriam ter ego, etc... Após ouvir essas palavras, as pessoas se puseram a procurar como fazer isso, vale dizer, se puseram a buscar a sua libertação em relação ao ego. Em assim fazendo, essas pessoas se tornaram "grandes gurus", elas mesmas se tornaram centradas em seu ego.

O fato é que não são vocês que atuam. O que vocês têm não é ego, mas apenas uma miragem do ego. Em verdade, vocês não fazem nada: tudo é feito por Deus. É Ele quem faz as coisas, Ele é aquele que faz as coisas. É Ele o possuidor do Grande Ego (Shri Mahat Ahamkara). O ego de vocês é nada mais do que uma reprodução, uma cópia artificial.

O Ego do Criador:
É Deus que cria as flores, mas vocês são capazes apenas de fabricar flores de plástico. Não obstante, alardeiam que: "oh, nós temos flores magníficas!" Deus faz tudo, e quando vocês creem ter feito algo, é apenas o seu pequeno ego que procura se expressar e aparecer.

Quando recebem a Realização, quando a Kundalini atravessa o Muladhara, sentem a energia fluir dentro de vocês. Quando estendem as suas mãos em direção a alguém, sentem que a Kundalini dessa pessoa se eleva,  descobrem que podem sentir os Chacras de outras pessoas e ficam estupefatos com isso: "O que é que está acontecendo comigo, porque até agora, eu não era nada!" Isso lhe aconteceu, porque o seu ego agora tornou-se unificado com o Ego de Deus.

A partir desse momento, colaboram na amplificação do próprio poder divino, porque desempenham o papel de instrumentos de Deus, e passam a ter uma personalidade límpida e transparente. É através de vocês que passa o fluxo de Vibrações Divinas. Esse fluxo Divino faz todo o trabalho. Se pensarem que vocês são os autores das obras, isso significa que vocês não obtiveram a Realização.

Terceira pessoa:
Após a sua Realização, ainda tendem a se expressar na primeira pessoa, dizendo: "eu sinto as vibrações fluírem, vejo a Kundalini perpassar o meu corpo." Depois de algum tempo, começarão a utilizar a terceira pessoa e não mais dirão: "eu..." Pelo contrário, vocês dirão: "Ela, ou aquilo passa, ou Ela ascende, Ela está bloqueada, etc..."

Surge em vocês uma terceira pessoa. Vocês não dizem mais: "eu estou bloqueado", e nem mais "eu despertei a Kundalini de tal pessoa." Mas dirão: "a Kundalini se elevou." Não foram vocês que fizeram com que a Kundalini ascendesse. Portanto, nunca digam que despertaram a Kundalini de alguém. Devem sempre falar na terceira pessoa, porque foram apenas instrumentos desse Poder que circula através de vocês.

Extinção do karma:
É dessa maneira que nos tornamos unificados com o Poder Divino. E todos os nossos Karmas se dissolvem e se transformam em Akarma (ausência de Karma). Nossos Karmas são apenas o efeito da falsa idéia que temos do ego. A partir do momento em que não tivermos mais ego, onde estarão os nossos Karmas?
Poderíamos tomar como exemplo uma organização que possui débitos e créditos. Em determinado momento no tempo, essa organização é dissolvida. Seus débitos desaparecem com ela. Da mesma maneira, vocês, enquanto ego, desaparecem e, portanto, seus Karmas não produzem mais nenhum efeito sobre vocês. Tudo isso acabou. Tudo isso fazia sentido quando o Senhor ego estava presente. De repente, ele desaparece, e com ele se extinguem todos os débitos. Transformamo-nos em outras pessoas, tornamo-nos o Si, o Atma, e quando nos tornamos o Atma, nos unimos com o Ser Universal e é Ele que faz com que realizemos todas as coisas.

Meus dedos não têm ego e não dizem: "Fomos nós que fizemos isso e aquilo, ou nós que tocamos o polegar." Isso porque, eles fazem parte de nosso corpo. Nosso nariz não possui ego que lhe permita aspirar algo com exclusividade. Dizem: "respiro!", "sinto um cheiro", vocês nunca dizem: "esse nariz respira ou sente algo!" E o nariz não diz jamais: "essa boca com a qual nós comemos, ou esses olhos com os quais vemos..."

Quando vocês se tornam unificados com o Todo, então passam a sentir que é o Todo que age, sendo que tudo que vocês ‘fazem’ é feito como parte Dele e com Ele. É o fim de todas as responsabilidades.

Alcançando o Si:
Eis aí uma pequena conversa sobre o ego, porque senti hoje que deveria dirigir a atenção de vocês para esse problema, que sempre esteve relacionado com o Ocidente. Ademais, há ainda os problemas do superego daquelas pessoas, que se deixaram influenciar por falsos gurus, e foram possuídas por eles. Isso porque esses gurus lhes pareciam algo seguro e algo que lhes dava alívio numa sociedade centrada no ego, como é a sociedade ocidental.

Suponhamos que haja um cavalo que galopa, e decidem montar esse cavalo. Eis que alguém propõe: "eu vou amarrá-lo no ventre do animal e sou eu quem vai sentado em cima na sela." A possessão de uma pessoa por outra se processa dessa maneira. Por um lado, vocês se sentirão aliviados, pois não precisarão mais cuidar das rédeas. O cavaleiro é alguém diferente de vocês, e assim vocês não têm nenhuma responsabilidade na condução da montaria, pois é a outra pessoa que se encarrega disso.Depois de terem passado um certo tempo atados ao ventre do cavalo, começarão a sentir alguns incômodos físicos. Isso porque, com o superego, vocês terão alguns problemas físicos.

É melhor ter um superego predominante do que um ego muito inflado. Com um ego inflado, vocês poderão se sentir no ápice do universo. Esse é o maior perigo.Um ego predominante fará com que vocês passem  a ter problemas no nível mental: pensarão que outras pessoas deveriam fazer o seu trabalho, e ficarão convencidos de que são as pessoas mais importantes do mundo.
Assim sendo, não lhes restará senão uma única solução, vale dizer, a de permanecerem no centro, a fim de monitorar e equilibrar seu ego e o seu superego.

Ademais, todos os Sahaja Yogis, que são realizados, deveriam cuidar de si mesmos e não cuidar dos outros. Não deveriam contar com nada que viesse dos outros, mas sempre e unicamente com as coisas que viessem do interior de vocês mesmos.

Com o ego, vocês estarão sempre esperando receber algo dos outros, enquanto que com o superego, estarão dispostos a fazer qualquer coisa pelos outros. Porém, com a Realização do Si, vocês difundirão o seu Ser com Alegria, Amor e Beleza.
Que Deus os abençoe.