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10 de abril de 2011

História De Shri Fátima

Shri Fátima preside, juntamente com Shri Gruhalakshmi, o Nabhi Esquerdo e Shri Hazrat Ali controla, juntamente com Shri Nirmala Chitta, o Swadhistana direito.

Em consonância com os ensinamentos de Shri Mataji, Shri Hazrat Ali é uma encarnação de Shri Brahmadeva.

Glossário

Citações de Shri Mataji sobre Shri Fátima aqui



Shri Fátima foi a filha do Senhor Maomé e de sua primeira esposa Khadijah. Ela nasceu num tempo em que seu nobre pai havia começado a passar longos períodos no silêncio das montanhas em torno de Meca, meditando e refletindo sobre os grandes mistérios da criação.

Esse foi um tempo, antes de Bithah, quando a sua irmã mais velha Zaynab casou-se com seu primo, al-Aas Ibn ar Rabiah. Em seguida, aconteceram os casamentos de suas duas outras irmãs, Ruqayyah e Umm Kulthum, com os filhos de Abu Lahab, um tio paterno do Profeta Maomé. Abu Lahab e sua esposa Umm Jamil tornaram-se, mais tarde, inimigos inflamados do Profeta, desde o início de sua missão pública.

A pequena Fátima viu, assim, saírem da casa de seu pai, uma após a outra, as suas irmãs a fim de viver com seus maridos. Ela era muito jovem para compreender o significado do casamento e os motivos pelos quais suas irmãs precisavam deixar o lar paterno. Ela as amava muito e ficou triste e sozinha, quando suas irmãs partiram. Comentou-se que um silêncio e uma tristeza dolorosa caíram sobre Fátima nessa época.

É claro que, após o casamento de suas irmãs, Fátima não ficou sozinha na casa de seus pais. Viviam na casa de seus pais, as seguintes pessoas: Barakah, a serva da mãe do Profeta, Aminah, que estava na casa do Profeta desde o seu nascimento, Zayd ibn Harithah e ÁLI, o filho mais nov de Abu Talib. Ademais, havia a sua querida mãe, a senhora Khadijah.

Em sua mãe e em Barakah, Fátima encontrava conforto e grande solicitude. Em Áli, que era cerca de dois anos mais velho do que ela, ela descobriu um “irmão” e um amigo, o qual, de certa forma, ocupou o lugar de seu próprio irmão Al-Qassim que havia morrido na infância. Seu outro irmão Abdullah, conhecido como Bom e Puro, que havia nascido depois dela, também havia morrido na infância. Todavia, em nenhuma das pessoas da casa de seu pai, Fátima encontrou a mesma alegria e a felicidade que gozava junto de suas irmãs. Ela era uma criança extraordinariamente sensível para a sua idade.

Quando Fátima fez cinco anos, ela soube que seu pai havia se tornado Rasul Allah (mensageiro de Deus). A primeira tarefa dele consistia em transmitir a boa nova do islã à sua família e parentes próximos. Eles deveriam adorar apenas Deus Todo-poderoso. Sua mãe, que era um pilar de força e apoio, explicou à Fátima o que seu pai teria de fazer. A partir desse momento, Fátima tornou-se mais intimamente ligada a ele e sentiu um profundo e duradouro amor por seu pai. Muitas vezes, ela caminhava pelas estreitas vielas de Meca, visitava a Caaba (pedra sagrada existente em Meca) ou comparecia aos encontros secretos com os primeiros muçulmanos que aceitaram o islã, e que haviam empenhado a sua fidelidade ao Profeta.


Certo dia, quando ainda não tinha dez anos, ela acompanhou seu pai até a Mesquita de al-Haram (Masjid al-Haram). Seu pai parou num lugar conhecido como al-Hijr em frente à Caaba e começou a orar. Fátima ficou ao lado dele. Um grupo de Quraysh , de forma alguma simpático ao Profeta, reuniu-se em torno dele. Estavam naquele grupo: Abu Jahl ibn Hisham, tio do Profeta, Uqbah ibn Abi Muayt, Umayyah ibn Khalaf, e Shaybah e Utbah, filhos de Rabi’ah. Ameaçadoramente, o grupo aproximou-se do Profeta e Abu Jahl, o líder do grupo, perguntou: “quem seria capaz de trazer as vísceras podres de um animal sacrificado e jogá-las em Maomé? “

Uqbah ibn Abi Muayt, um dos mais perversos do grupo, apresentou-se como voluntário para pegar as vísceras. Ele retornou com a imundície fétida e jogou-a sobre os ombros de Maomé (que Deus o abençoe e dê-lhe a paz), enquanto este estava ainda ajoelhado orando. Também estava presente, nesse momento, Abdullah ibn Massud, um companheiro do Profeta, que nada pode fazer ou dizer.

Imaginem o que Fátima sentiu ao ver seu pai ser tratado daquela maneira. O que é que ela, uma garota que nem dez anos tinha, podia fazer? Ela se aproximou de seu pai e removeu o material imundo de suas costas, permanecendo, firme e raivosamente, diante do grupo dos arruaceiros Quraysh. Apesar de Fátima ter esbravejado bastante contra eles, nenhum deles atreveu-se a dizer-lhe uma só palavra. O nobre Profeta levantou sua cabeça e terminou sua oração (Salat) que estava fazendo. O Profeta disse então: “oh, Deus, que os Quraysh possam ser punidos!” e repetiu essa imprecação três vezes. Então, ele continuou: “Que Deus possa punir Utbah, Uqbah, Abu Jahl e Shaybah!” (Essas pessoas que foram mencionadas pelo Profeta acabaram morrendo, anos mais tarde, na batalha de Badr).

Em outra ocasião, Fátima estava com o Profeta, enquanto este fazia tawaf (dar voltas em torno da Caaba) ao redor da Caaba. Um grupo de Quraysh cercou o Profeta. Os Quraysh agarraram o Profeta e tentaram estrangulá-lo com suas próprias vestes. Fátima gritou por socorro. Abu Bakr correu até o local e conseguiu libertar o Profeta. Enquanto estava fazendo isso, Abu Bakr indagou: “como é que vocês podem matar um homem que diz que o ‘Meu Senhor é Deus”?” Ao invés de desistirem das ofensas, os Quraysh voltaram-se para Abu Bakr e começaram a bater nele, até que o sangue aflorasse em sua cabeça e em seu rosto.

Essas cenas de oposição e assédio cruéis contra seu pai e contra os primeiros muçulmanos foram testemunhadas pela jovem Fátima. Ela não ficou timidamente de lado mas juntou-se à luta em defesa de seu pai e de sua nobre missão. Fátima teve de testemunhar e participar de todos esses embates violentos, ao invés de usufruir, como jovem que era, da alegria despreocupada típica das crianças de sua idade.

Ela não estava certamente sozinha nisso. Toda a família do Profeta sofria com as investidas violentas e irracionais dos Quraysh. Suas irmãs, Ruqayyah e Umm Kulthum também sofreram. Elas estavam vivendo, nessa época, no próprio ninho do ódio e intriga contra o Profeta. Seus maridos eram Utbah e Utaybah, filhos de Abu Lahab e Umm Jamil. Umm Jamil era conhecida por ser uma mulher cruel e dura, possuidora de um língua ferina e perversa. Foi, principalmente, por causa dela que Khadijah não ficou satisfeita com os casamentos de suas filhas com os filhos de Umm Jamil. Deve ter sido muito doloroso para Ruqayyah e Umm Kulthum (filhas do Profeta) viver numa casa, onde os inimigos inveterados se reuniam e arquitetavam campanhas de combate ao seu pai, o Profeta Maomé.

No afã de provocar uma desgraça para Maomé e sua família, Utbah e Utaybah foram induzidos por seus pais a se divorciarem das filhas de Maomé. Isso fazia parte de um plano para colocar o Profeta totalmente no ostracismo. Todavia, o Profeta, de fato, acolheu de volta as suas filhas (Ruqayyah e Umm Kulthum) em seu lar, com alegria, felicidade e alívio.

Fátima, sem dúvida, deve ter se sentido muito feliz por estar novamente com suas irmãs. Todos queriam que sua irmã mais velha, Zunayd, também se divorciasse de seu marido. Efetivamente, os Quraysh pressionaram muito Abu al Aas para fazer isso, ele porém recusou-se a fazê-lo. Quando os líderes dos Quraysh procuraram-no a fim de prometer-lhe a mais rica e bela mulher como esposa, se ele se divorciasse de Zunayd, ele respondeu: “amo minha esposa profunda e apaixonadamente. Ademais, tenho uma grande e elevada estima pelo pai dela, ainda que eu não tenha adotado a religião islâmica.”

Tanto Ruqayyah quanto Umm Kulthum ficaram muito felizes em retornar ao convívio de seus queridos pais, principalmente pelo fato de terem ficado livres da tortura mental insuportável à qual elas haviam sido submetidas na casa de sua sogra, Umm Jamil. Pouco depois, Ruqayyah casou-se novamente com o jovem e tímido Uthman ibn Allan, que foi um dos primeiros a adotar a religião islâmica. Ambos foram para a Etiópia (antiga Abissínia), junto com os primeiros muhajirin (emigrantes islâmicos) que procuraram refúgio naquele país e lá permaneceram durante muitos anos. Fátima somente voltou a ver a sua irmã, após a morte de sua mãe, Khadijah.

A perseguição ao Profeta, à sua família e aos seus seguidores continuou e tornou-se bem pior, após a emigração dos primeiros muçulmanos para a Etiópia. Por volta do sétimo ano de sua missão, o Profeta e sua família foram obrigados a deixar os seus lares e buscar refúgio num pequeno vale irregular cercado por montanhas de todos os lados, o qual só podia ser alcançado a partir de Meca, através de um caminho estreito.

O Profeta Maomé e os clãs Banu Hashim e al-Muttalib foram forçados a se retirar para esse vale árido, com limitados suprimentos de comida. Fátima era uma das participantes mais jovens dos clãs – ela tinha apenas doze anos – e teve de passar meses de privações e sofrimento. Os lamentos das crianças e mulheres famintas no vale podiam ser ouvidos em Meca. Os Quraysh não permitiam que as pessoas entrassem em contato ou dessem alimentos para os muçulmanos, cujas privações somente encontra algum alívio durante a temporada de peregrinação. Esse boicote durou três anos. Quando ele acabou, o Profeta teve de enfrentar mais atribulações e dificuldades. Khadijah, a fiel e amorosa esposa, faleceu logo em seguida. Com sua morte, o Profeta e sua família perderam uma das maiores fontes de consolo e força que os havia sustentado durante todos aqueles anos de privações. O ano em que a nobre Khadijah e Abu Talib (pai de Házarat Áli) morreram é conhecido como o Ano da Tristeza. Fátima, agora uma jovem senhora, ficou muito desarvorada com a morte de sua mãe. Ela chorou amargamente a sua morte e por algum tempo ficou tão abatida pelo pesar que a sua saúde ficou afetada. Temeu-se que ela pudesse morrer de tristeza.

Apesar de sua irmã, Umm Kulthum, mais velha do que ela, habitar a mesma casa, Fátima deu-se conta de que agora tinha uma responsabilidade maior com o passamento de sua mãe. Ela sentiu que deveria dar um apoio ainda maior para o seu pai. Com ternura e amor, ela devotou-se inteiramente a cuidar das necessidades do Profeta. Ela ficou tão preocupada com o bem-estar de seu pai, que chegou a ser chamada de ‘Umm Abi-ha”, ou seja, ‘a mãe de seu próprio pai’. Ela também consolava e confortava o Profeta, nos momentos de provação, dificuldade ou crise.
As ofensas freqüentes sofridas por seu pai eram insuportáveis para ela. Certa vez, uma multidão insolente jogou poeira e terra sobre a cabeça abençoada do Profeta. Quando ele chegou em casa, Fátima chorou copiosamente enquanto limpava o pó da cabeça de seu pai.

O Profeta disse-lhe: “não chore, minha filha. Deus protegerá o seu pai.” O Profeta dedicava à Fátima um amor especial. Ele disse, certa vez: “aquele que agradar à Fátima, em verdade agradará a Deus e aquele que conseguir causar raiva à Fátima, em verdade conseguirá despertar a ira de Deus. Fátima é uma parte de mim. Seja o que for que agrade a ela, agradará a mim também e o que quer que a faça ficar irada, tornar-me-á irado também.”
O Profeta disse também: “as melhores mulheres de todo o mundo são quatro: “a Virgem Maria, Aasiyaa, a esposa de Pharoah, Khadijah, a Mãe dos Devotos e Fátima, filha de Maomé.” Fátima conquistou assim um lugar de amor e estima no coração do Profeta, que antes era ocupado unicamente pela sua esposa Khadijah.

À Fátima (que Deus esteja contente com ela) foi dado o título de “as-Zahraa”, que significa ‘a resplandecente’. Isso foi dito porque o seu rosto sorridente parecia irradiar luz. Diziam que quando ela orava, o mihrab (nicho ou lugar especial numa mesquita) refletia a luz de sua devoção. Ela também era chamada de “al-Batul”, por causa de sua dedicação ascética. Ao invés de gastar seu tempo conversando com as mulheres, ela investia seu tempo na adoração de Deus (Salat), na leitura do Alcorão e em outros atos devocionais (Ibadah).

Fátima tinha uma forte semelhança com seu pai, o Mensageiro de Deus. Aishah, uma das esposas do Profeta, disse a respeito dela: “nunca vi nenhuma criatura de Deus assemelhar-se mais ao Mensageiro de Deus na fala, na conversação e no modo de sentar-se como a Fátima (que Deus esteja contente com ela). Quando o Profeta a via chegando, ele dava-lhe as boas-vindas, levantava-se e a beijava, tomava-a pela mão e a fazia sentar-se no lugar onde ele se sentava.” Fátima comportava-se da mesma maneira quando o Profeta se aproximava dela. Ela se levantava e o saudava com alegria e o beijava.

As boas maneiras e a fala doce de Fátima faziam parte de sua personalidade amorosa e cativante. Ela era especialmente bondosa com os pobres e indigentes e, freqüentemente, dava toda a comida que tinha para eles, apesar de ela ficar com fome. Ela não tinha apego pelos ornamentos desse mundo, nem pelo luxo ou conforto de vida. Ela vivia de maneira simples, não obstante em certas ocasiões, como veremos, as circunstâncias parecessem demasiadamente aflitivas e difíceis para ela.

Ela herdou de seu pai uma eloqüência persuasiva que tinha origem na sabedoria. Quando ela falava, muitas vezes as pessoas chegavam às lágrimas. Ela tinha a habilidade e a sinceridade necessárias para despertar as emoções, levando os outros às lágrimas e enchendo seus corações de louvor e gratidão a Deus pela Sua Graça e Sua inestimável generosidade.

Fátima emigrou para Medina (no ano de 622 d. C.), poucas semanas após o Profeta. Ela foi com Zayd ibn Harithah, que foi enviado pelo Profeta à Meca, a fim de levar o resto de sua família. Foram nesse grupo para Medina as seguintes pessoas: Fátima, Umm Kulthum (também filha de Maomé), Sawdah, uma das mulheres do Profeta, a esposa de Zayd, Barakah e seu filho Usamah. Viajaram também com o grupo Abdullah, filho de Abu Bakr, que estava acompanhado de sua mãe e de suas irmãs, Aishah e Asma.

Em Medina, Fátima viveu com seu pai numa casa simples que ele havia construído ao lado da mesquita. No segundo ano após a hégira (exílio), Fátima recebeu várias propostas de casamento através de seu pai. Foi então que Ali, o filho de Abu Talib, muniu-se de coragem e foi até o Profeta pedir a mão de Fátima em casamento. No entanto, diante do Profeta, Ali tornou-se temeroso e ficou mudo. Ele olhou para chão e não conseguia dizer nada. O Profeta então perguntou-lhe: “por que motivo você me procurou? Você necessita de alguma coisa?” Mesmo assim, Ali não conseguia dizer nada e então o Profeta sugeriu: “quem sabe você quer pedir-me a mão de Fátima em casamento?” Ali respondeu: “sim”. Após Ali ter dito isso, o Profeta disse simplesmente: “marhaban wa ahlan”, que significa: ‘seja bem-vindo à família’ e isso foi considerado por Ali e um grupo de Ansar que estava esperando fora da casa como uma indicação da aprovação do Profeta. Um outro relato indica que o Profeta aprovou o casamento e perguntou a Ali se este tinha algo para oferecer como mahr (dote).

O Profeta lembrou-lhe que ele tinha um escudo que poderia ser vendido. Ali vendeu o escudo para Uthman por quatrocentos dirhams (moeda local daquela época). Quando ele estava correndo de volta para entregar ao Profeta a soma correspondente ao dote, Uthman fê-lo parar e disse: “estou lhe devolvendo o escudo como um presente de seu casamento com Fátima. Fátima e Ali casaram-se assim muito provavelmente no início do segundo ano após a hégira (exílio). Ela estava com dezenove anos e Ali tinha vinte e um anos, nessa época. Foi o próprio Profeta quem realizou a cerimônia de casamento. No walimah, aos convidados foram oferecidos figos, tâmaras e hais (uma mistura de tâmaras com manteiga). Um dos líderes do clã dos Ansar doou aos noivos um carneiro e outras pessoas ofereceram cereais como presentes. Toda a cidade de Medina estava muito alegre com a cerimônia de casamento.

O Profeta presenteou os noivos com uma cama de madeira adornada com folhas de palmeira, com uma colcha de veludo, uma almofada de couro, uma pele de ovelha, um jarro, um cantil de couro e um moedor de grãos.

Fátima, pela primeira vez, deixou o lar paterno, a fim de começar uma vida nova com seu marido. O Profeta ficou visivelmente preocupado com a filha e enviou Barakah para ajudá-la, caso ela necessitasse de alguma coisa. Sem dúvida, Barakah foi uma fonte de consolo e conforto para Fátima.

O Profeta proferiu a seguinte prece para os noivos: “oh Senhor Deus, abençoa-os, abençoa a casa deles e abençoa a sua prole.” Na casa humilde de Ali havia somente uma pele de ovelha que servia como cama. Na manhã que se seguiu à noite de núpcias, o Profeta foi à casa de Ali e bateu à porta. Barakah veio abrir a porta e o Profeta disse-lhe: “oh, Umm Ayman (mãe de Ayman), chame o ‘meu irmão’ para mim.” Barakah então, sem acreditar bem no que havia ouvido, perguntou ao Profeta: “o senhor chama aquele que se casou com sua filha de seu irmão?” (O Profeta havia chamado Ali de seu irmão, porque depois do exílio – hégira - os muçulmanos exilados se consideravam integrantes de uma fraternidade. Por isso, o Profeta considerava Ali ‘seu irmão’). O Profeta então repetiu o que havia dito com uma mais alta. Ali aproximou-se e o Profeta fez uma du’a, invocando as bênçãos de Deus sobre ele. Em seguida, ele perguntou por Fátima. Ela apareceu demonstrando simultaneamente respeito e timidez e o Profeta disse para ela: “eu a casei com a pessoa mais querida de minha família.” Dessa forma, ele procurou fortalecer a confiança dela. Ela não estava começando uma vida com uma pessoa completamente estranha, mas sim com alguém que havia crescido junto com ela na mesma casa, e que estava entre os primeiros a adotar a religião islâmica numa idade tenra. Ademais, Ali era conhecido por sua coragem, bravura e virtude. O Profeta descrevia Ali como sendo seu irmão nesse mundo e no outro.

A vida de Fátima com Ali foi tão simples e frugal como havia sido na casa de seu pai. De fato, em termos de conforto material, eles levaram uma vida de dureza e privações. Durante o tempo em que viveram juntos, Ali permaneceu pobre e não acumulou nenhuma riqueza material. Fátima foi a única, dentre suas irmãs, que não havia se casado com um homem rico.

De fato, poder-se-ia dizer que a vida de Fátima com Ali foi ainda mais dura do que a que havia levado na casa de seu pai. Pelo menos, antes do casamento, havia sempre muitas pessoas que ajudavam na casa do Profeta. Agora, ela tinha de contar somente com seus próprios esforços. A fim de aliviar a extrema pobreza deles, Ali trabalhava como fornecedor e carregador de água e Fátima moia grãos. Certo dia, Fátima disse para Ali: “moí tantos grãos hoje, que surgiram bolhas em minhas mãos.” Ali, por sua vez, disse a Fátima: “trabalhei tanto nos poços de água hoje que fiquei com uma dor no peito.” Ali então sugeriu à Fátima: “Deus deu a seu pai alguns prisioneiros de guerra, vá pedir a ele para arranjar-lhe um servo.” Ela relutou muito, mas foi procurar o seu pai. Quando ela se aproximou do Profeta, este lhe disse: “o que foi que a trouxe aqui, minha filhinha?” Ela respondeu: “vim aqui trazer-lhe cumprimentos de paz.” Dado o respeito que Fátima tinha por seu pai, ela não foi capaz de dizer-lhe o que pretendia pedir-lhe.

Quando Fátima retornou à sua casa sozinha, Ali perguntou-lhe: “o que foi que você fez?” Fátima respondeu: “fiquei com vergonha de pedir-lhe um servo.” Em seguida, os dois foram juntos falar com o Profeta, mas este achou que havia outras pessoas que precisavam mais do que eles de ajuda. O Profeta disse-lhes: “eu não lhes darei nada agora, pois não posso deixar que os outros muçulmanos pobres que ficam na mesquita (Ahl as-Suffah) passem fome. Eu não tenho suprimentos suficientes para mantê-los…”

Ali e Fátima voltaram para casa sentindo-se, de certo modo, rejeitados. Todavia, naquela noite, após terem ido para a cama, eles ouviram a voz do Profeta pedindo permissão para entrar. Eles deram-lhe as boas-vindas, prostraram-se aos pés dele e o Profeta lhes disse: “fiquem onde estão” e sentou-se perto deles. “Será que posso lhes dizer algo melhor do que o que vocês me pediram?”, perguntou-lhes o Profeta. Eles disseram que sim. Em seguida, o Profeta disse-lhes: “essas palavras me foram ditas por Jibril (o Arcanjo Gabriel): vocês devem dizer Subhaan Allah (Glória a Deus), dez vezes depois de cada prece. Devem dizer também, dez vezes, após cada prece, Al hamdu lillah (Louvado seja Deus), bem como, dez vezes, Allahu Akbar (Deus é o maior). Quando vocês forem para a cama dormir devem repetir esses louvores trinta e três vezes cada um.

Ali costumava dizer que nunca deixou de repetir essas frases, depois que o Mensageiro de Deus lhes ensinou.
Há muitos relatos sobre as atribulações que Fátima teve de enfrentar. Muitas vezes, não havia comida em sua casa. Certa vez, o próprio Profeta estava com fome. Ele procurou comida nos apartamentos de suas esposas, mas não havia nada para comer. Ele então foi à casa de Fátima, porém ela não tinha nada para oferecer-lhe. Quando o Profeta conseguia algo para comer, ele costumava mandar para Fátima dois pães e um pedaço de carne. Certa vez, ele foi à casa de Abu Ayyub al-Ansari e da comida que lhe foi dada, ele guardou um pouco para Fátima. Fátima também sabia que o Profeta ficava, durante longos períodos, sem nada comer e guardava, sempre que podia, algo para ele. Uma vez, ela deu ao Profeta um pedaço de pão e o Profeta disse para ela: “faz três dias que não como nada. Essa é a primeira coisa que como.”
Através desses atos de bondade, Fátima mostrava quanto ela adorava o seu pai. Ela realmente o amava e ele retribuía o seu amor.

Um dia, ele voltou de uma viagem para fora de Medina. Em primeiro lugar, ele foi à mesquita e rezou dois rakats, conforme costumava fazer. Em seguida, como fazia sempre, foi à casa de Fátima antes de ver as suas esposas. Fátima saudou-o e beijou seu rosto, sua boca e seus olhos e começou a chorar. O Profeta perguntou-lhe: “por que motivo você está chorando?” Fátima respondeu: “eu vejo o senhor, oh Mensageiro de Deus (Rasul Allah), a sua cor está pálida e doentia e sua roupa tornou-se surrada e gasta.” O Profeta então respondeu com ternura: “oh Fátima, não chore porque Allah enviou seu pai para cumprir uma missão, pela qual Ele afetará todos os lares sobre a face da Terra, estejam eles em cidades, vilarejos ou tendas (no deserto), o que trará glória ou humilhação até que essa missão seja cumprida, assim como a noite vem inevitavelmente.” Esses comentários do Profeta fizeram com que Fátima suportasse a dura realidade da vida cotidiana, pois eles davam a dimensão vasta e de longo alcance da missão confiada por Deus ao seu nobre pai.

Finalmente, Fátima voltou a morar numa casa bem próxima da de seu pai. A casa foi doada por um membro da família Ansari, que sabia que o Profeta ficaria exultante em ter a sua filha morando perto dele. Eles vivenciaram juntos as alegrias e os triunfos, as tristezas e os rigores dos dias e anos da movimentada Medina.

No meio do segundo ano após a hégira, Ruqyyah, irmã de Fátima, contraiu sarampo. Isso foi pouco antes da batalha de Badr. Uthman, seu esposo, ficou cuidando dela e não foi à batalha. Ruqayyah morreu antes de seu pai voltar da guerra. Em seu retorno para Medina, um dos primeiros atos do Profeta foi visitar o túmulo da filha.

Fátima foi com ele. Esse foi a primeira perda de um parente próximo que tiveram, desde o falecimento de Khadijah. Fátima ficou muito desolada com o passamento da irmã. As lágrimas desciam abundantemente de seus olhos e ela sentou-se ao lado de seu pai à beira do túmulo. O Profeta confortou-a e procurou enxugar as lágrimas com a ponta de seu manto.

O Profeta havia falado previamente contra as lamentações pelos mortos, porém isso foi mal interpretado, e quando eles retornaram do cemitério, Umar levantava raivosamente a sua voz contra as mulheres que estavam chorando por Ruqayyah e pelos mártires da batalha de Badr. O Profeta disse então: “Umar, deixe que elas chorem. Aquilo que tem origem no coração e nos olhos vem de Deus e de Sua compaixão, mas aquilo que é oriundo da mão e da língua é obra do satanás. Por ‘mão’ o Profeta quis referir-se ao ato de bater no peito exageradamente e ao ato de golpear o rosto e por ‘língua’, ele quis referir-se aos gritos e o alto clamor que, muitas vezes, as mulheres se juntam para proferir, como um sinal de simpatia pública.

Uthman casou-se mais tarde com a outra filha do Profeta, Umm Kulthum, e por causa disso, ele ficou sendo conhecido por Dhu-n Nurayn – O Possuidor de Duas Luzes.
O pesar que havia se abatido sobre a família do Profeta pela morte de Ruqayyah foi seguido pela felicidade, quando, para a alegria de todos os devotos, Fátima deu à luz um menino, no Ramadã do terceiro ano depois da hégira. O Profeta proferiu palavras do Adhan no ouvido do menino recém-nascido e deu-lhe o nome de al-Hásan, que significa ‘aquele que é belo’.
Um ano depois, Fátima deu à luz um outro menino, que foi chamado de al-Husain, que significa ‘o pequeno Hásan’, ou ‘o pequeno belo’. Fátima levava sempre seus filhos para verem seu avô, o qual tinha muito amor pelos netos. Mais tarde, o Profeta levou seus netos à mesquita e, enquanto fazia a prostração, seus netos subiam em suas costas. Ele fez a mesma coisa com a sua netinha Umamah, filha de Zaynab.

No oitavo ano depois da hégira, Fátima deu à luz uma menina que foi chamada de Zaynab, nome de sua irmã mais velha que havia falecido pouco antes do parto. Zaynab futuramente tornou-se famosa e ficou sendo conhecida como a Heroína de Karbala. Fátima teve ainda uma quarta filha que foi chamada de Umm Kulthum, em homenagem à sua irmã Umm Kulthum que havia morrido no ano anterior ao nascimento da criança.

Foi apenas através de Fátima que a descendência do Profeta perpetuou-se. Todos os filhos do sexo masculino do Profeta morreram na infância, e os dois filhos de Zaynad, que se chamavam Ali e Umamah, faleceram muito jovens. O filho de Ruqayyah que se chamava Abdullah também havia morrido quando ainda não tinha feito dois anos. Essa é uma forte razão pela qual Fátima é tão reverenciada.

Ainda que Fátima estivesse sempre muito ocupada com as sucessivas gestações, com os partos e com a educação de suas crianças, ela participou, tanto quanto possível, do fortalecimento da comunidade islâmica em Medina. Antes de seu casamento, ela atuou como uma espécie de protetora dos pobres e dos indigentes Ahl as-Suffah (muçulmanos pobres que vivem nas mesquitas). Logo após o término da batalha de Uhud, ela foi com outras mulheres ao campo de batalha a fim de prantear os mártires mortos e cuidar dos ferimentos de seu pai. Na batalha de Ditch, Fátima teve um papel preponderante com outras mulheres no preparo de alimentos, durante o longo e difícil cerco das tropas. Em sua tenda, ela conduzia as mulheres nas orações, sendo que naquele lugar foi erigida uma mesquita que se chama Masjid Fatimah, uma das sete mesquitas onde os muçulmanos montam guarda e executam as suas ações devocionais.

Fátima também acompanhou seu pai, quando ele fez Umrah no sexto ano após a hégira, depois do Tratado de Hudaybiyyah. No ano seguinte, Fátima e sua irmã Umm Kulthum integraram a poderosa multidão de muçulmanos que fizeram parte, com o Profeta, da liberação de Meca. Nessa ocasião, Fátima e sua irmã Umm Kulthum visitaram a casa que havia sido de sua mãe Khadijah, onde recordaram-se dos antigos tempos de sua infância, bem como de Jihad de longas lutas nos primeiros anos da missão do Profeta.

No Ramadã do décimo ano, pouco antes que o Profeta partisse para a sua Peregrinação de Despedida, o Profeta confidenciou à Fátima um segredo que ainda não podia ser compartilhado com os outros. O Profeta disse à Fátima: “todos os anos, Jibril (o Arcanjo Gabriel) recitava, uma vez, o Alcorão para mim. Todavia, esse ano ele recitou o Alcorão, duas vezes, para mim. Nada posso imaginar senão que meu tempo chegou.”

Na sua volta da Peregrinação de Despedida, o Profeta ficou gravemente enfermo. Seus últimos dias foram passados no apartamento de sua esposa Aishah. Quando Fátima chegou para visitar seu pai, Aishah deixou que os dois conversassem sozinhos.

Um dia, o Profeta mandou chamar Fátima. Quando ela chegou, ele a beijou e sussurrou algumas palavras em seu ouvido. Fátima chorou. Em seguida, ele cochichou outras palavras no ouvido dela e ela sorriu. Aishah testemunhou isso e indagou: “você chorou e sorriu ao mesmo tempo, Fátima? O que foi que o Profeta lhe disse?” Fátima respondeu: “em primeiro lugar ele me disse que iria encontrar-se em breve com seu Senhor, então eu chorei. Em seguida, o Profeta disse-me que eu seria a primeira pessoa de nossa família a juntar-se a ele, então eu sorri.”

Não passou muito tempo após esse encontro e o Profeta faleceu. Fátima foi tomada pela tristeza e chorava sempre de forma copiosa. Uma das pessoas que conviviam com ela afirmou que nunca mais viu Fátima sorrir, após a morte de seu pai.

Certa manhã, no início do mês de Ramadã, menos de cinco meses após a morte de seu nobre pai, Fátima despertou sentindo-se extraordinariamente feliz e eufórica. Naquele mesmo dia, à tarde, ela chamou Salma bint Umays, que estava cuidando dela. Ela pediu água e tomou um banho. Ela vestiu roupas novas e perfumou-se. Pediu então à Salma que pusesse o seu leito no pátio da casa. Com sua face voltada para o céu, ele perguntou pelo seu marido Ali.
Ele ficou perplexo ao vê-la deitada no meio do pátio e perguntou-lhe se havia algo errado. Ela sorriu e disse-lhe: “hoje, eu tenho um encontro com o Mensageiro de Deus.”

Ali começou a chorar e ela tentou consolá-lo. Ela pediu-lhe que tomasse conta de seus filhos al-Hasan e al-Husayn e recomendou que ela fosse enterrada sem nenhuma cerimônia. Ela fixou seu olhar no céu, fechou seus olhos e entregou sua alma a Deus Todo-poderoso.
Ela, Fátima a Resplandecente, tinha apenas vinte e nove anos quando faleceu